23
de junho de 2015 | N° 18203
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
OS
PEQUENOS DETALHES
É surpreendente
como pequenas coisas podem mudar o mundo. Pequenos detalhes, pequenos gestos,
pequenas coincidências que podem alterar a sequência que vinha sendo seguida e
se impondo como modelo cultural, reproduzindo-se sem uma visão crítica de seu
próprio tempo e espaço. Assim aconteceu com o teatro brasileiro da década de 1940
do século passado.
Em
plena II Guerra Mundial, os jovens universitários da elite carioca que
estudavam na Europa tiveram que retornar ao Brasil e morrer de tédio convivendo
com uma cultura provinciana e fora de moda. Daí, em 1938, alguns deles criaram
um grupo de teatro amador denominado Os Comediantes.
Quando
em 1942 Louis Jouvet, também fugindo da guerra, veio com sua Companhia para o
Brasil, esses jovens atores procuraram o grande diretor e o convidaram para
dirigir um espetáculo do grupo, sugerindo textos da literatura francesa
contemporânea. Jouvet não pôde aceitar o convite – afinal, a companhia estava
na América do Sul com um repertório de quatro espetáculos e não havia condições
para ele permanecer no Rio para dirigi-los. Porém, o sábio diretor acrescentou –
mas, se eu fosse dirigi-los, seria com um texto de autor brasileiro.
Bom,
no início os jovens não entenderam muito bem a razão dessa afirmativa,
debateram, discutiram, polemizaram, mas aos poucos a ficha foi caindo. Aí, saíram
em busca de alguém que escrevesse teatro local, o que praticamente não existia,
salvo alguns poucos autores de melodramas. Foi quando o pequeno acidente
aconteceu e mudou o mundo.
O
jovem pianista, ator, tradutor e produtor de teatro Brutus Pedreira apresentou
ao Grupo o também jovem e até então desconhecido jornalista Nelson Rodrigues. Eles
leram uma peça e se encantaram. Então havia alguém que sabia escrever teatro,
bom teatro, teatro moderno, atual, revolucionário. Convidaram o diretor polonês
Ziembinski, também fugido da Guerra, para dirigi-los e, no dia 31 de dezembro
de 1943, estreava no Teatro Municipal a peça Vestido de Noiva, marco do moderno
teatro brasileiro. Coisas que acontecem...
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