07
de junho de 2015 | N° 18186
CARPINEJAR
Aladim dos caprichos impossíveis
O
ansioso não é ansioso por ele, mas pelos outros.
A
ansiedade é raciocinar pelos outros, é concluir pelos outros, é resolver pelos
outros.
Você
escuta algo, toma aquilo como uma missão e deseja concluir rapidamente para
voltar a pensar em si. A ansiedade é uma generosidade inventada pelo egoísmo.
A
ansiedade é correr contra o tempo com o propósito de voltar a ter seu próprio
tempo. A ansiedade é a compulsão de atender às expectativas de quem está do seu
lado para retornar aos cuidados de suas próprias expectativas.
O
dilema do ansioso é que procura agradar à sua companhia para não ser criticado.
Mas sempre está a fim de algo pessoal que não sobra tempo.
É
alguém que come o pior do prato e reserva o melhor para o final. Certamente a
comida predileta restará fria na hora de ser garfada.
Não
há discernimento entre o que é importante e o dispensável. Tudo é urgente, tudo
é motivo de aflição, tudo é uma perigosa avaliação de seus atos.
A
próxima atividade, apenas por ser a próxima, é de absoluta premência. O pequeno
e o grande têm o mesmo valor. O simples e o épico têm igual medida.
O
problema do ansioso é que ele converte qualquer solicitação em prioridade. E
como só consegue começar uma tarefa quando terminar a anterior, sua rotina
transforma-se em gincana.
Ninguém
está pedindo ou solicitando nada, só que ele se posiciona como o provedor do
universo, como o telepata do casamento, como o Aladim dos caprichos
impossíveis.
Como
se fosse um marido saciando infinitamente os rompantes esquisitos de sua esposa
gestante. E sua esposa ainda nem está grávida.
O
ansioso é carente, pois nunca se julga satisfeito consigo. O ansioso é
insaciável, pois não para nem para comemorar seus feitos. O ansioso não avalia
as possibilidades, ele prefere descartá-las cumprindo uma por uma.
Se a
mulher comenta que precisam comprar roupa de cama, incorpora as palavras dela
como uma ameaça e pretende amanhecer na loja e se desobrigar da tarefa.
Mas
ela não falou para realizar naquele instante, era uma intenção para ser
cumprida durante o mês, mas o mês para o ansioso é ontem e ele não admite
esperar. Ele não suporta acumular planos. Plano é tensão, plano é pendência,
plano é uma decepção agendada.
Parte
da hipótese de que senão fizer agora não fará nunca mais. Mas é mentira. Ele
faz rapidamente porque odeia ter compromissos em aberto. Abomina ser
pressionado e se pressiona terrivelmente. Ele se cobra para não ser cobrado.
Seu
prazer está em finalizar os atos, não em desfrutá-los. Perde o melhor da vida
que é não se preocupar naquilo que virá depois. O ansioso é um doente terminal
com excesso de saúde. Morre de uma doença imaginária.
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