08
de junho de 2015 | N° 18187
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
Pois
mais uma vez a Netflix vai lá e lança uma série própria, Unbreakable Kimmy
Schmidt, criada e produzida para a rede mundial de computadores, com as
aventuras e desventuras de uma garota que passou 15 anos enterrada num abrigo pós-apocalipse
por conta de uma seita fimdomundista. Kimmy, a garota, entrou com 15 e saiu com
30, e agora, adulta e desinformada de tudo que ocorreu no mundo desde os anos 1990,
tem que se virar na sede mundial do ultracontemporâneo, aka Nova York.
Um
dos bons filmes que todos deveriam ver se chama O Navegador. Ele é neozelandês
e mostra um grupo de seres medievais, no meio da Peste Negra, que entram em uma
mina e saem no século 20 e, pasmem, nem percebem. O mundo medieval era um
universo no qual magia e realidade se confundiam, e, para os navegadores do
filme, tudo que veem tem explicação: trens são dragões, luzes são olhos das
fadas, e tecnologia não passa de efeitos especiais produzidos por algum bruxo
poderoso. Simples.
Kimmy
é mais ou menos como eles. Ela chega a 2015 com a maior tranquilidade, embora não
faça ideia de como usar um smartphone. Assim que aprende, começa a enviar
selfies pornô (“Como todo mundo faz”). Kimmy é uma navegadora na onda da
modernidade pós-industrial, recém-chegada de um universo tão medieval quanto o
do filme.
A série
foi cocriada pela brilhante Tina Fey, do Saturday Night Live. O seu humor é um
tanto americano demais, e a gente simplesmente estranha o registro, as caretas,
o timing. Parte do tempo a gente acha esquisito, em outra parte a gente curte
muito o que acontece com Kimmy e sua trupe. Exemplo? Um dos novos amigos de
Kimmy é negro e arruma emprego de lobisomem em um restaurante temático. Pois
ele descobre que os americanos brancos são mais gentis com ele na forma de
lobisomem do que na sua condição normal de afro-americano. Risos, risos, e crítica
social feroz.
Para
um brasileiro, a série pode parecer tola, mas é o jeitão deles. Os americanos
comem muito cereal no café da manhã e talvez por isso sejam desse jeito. Ou não.
Vejam, e decidam.
Fica
a dica.
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