06
de janeiro de 2015 | N° 18034
DAVID
COIMBRA
Não era bem isso o que eu queria
dizer
A
previsão do tempo indica que, nesta semana, teremos 18 graus abaixo de zero em
Boston. Gelado. Em compensação, é lindo ver a neve branca como a pureza se
acumulando no solo, sobretudo à noite, em contraste com o negro sombrio do céu.
Agora,
um adendo: quando falo em branco da pureza e negro sombrio não vai aí nenhuma
conotação racial. É só que o branco, em geral, é associado à limpeza, porque
qualquer sujeirinha aparece bastante em uma superfície branca, não é?
Quanto
ao negro sombrio e todas as referências de que o negro é algo negativo, como
quem reclama que "aquele foi um ano negro", por exemplo, isso se deve
ao fato de que a noite é negra porque é escura e no escuro não enxergamos bem e
por isso sentimos medo e o medo é ruim. Certo?
Por
favor, não vá pensar que sou racista, algo assim, embora já vacile ao chamar
alguém, mesmo uma pessoa branca, de negão ou de negrinha, porque, sei lá, pode
parecer qualquer coisa e não quero ficar parecendo qualquer coisa. Isso de
negrinha mesmo, isso é algo de que uma mulher pode reclamar, porque tenho o
hábito de chamar as mulheres de negrinha e de colocar seus nomes no diminutivo
– a minha mulher, inclusive, chamo de Marcinha.
Só
que alguma mulher, algum dia, disse que faço isso inconscientemente para
reduzir as mulheres e, cruz-credo!, juro que não quero reduzir as mulheres, ao
contrário, acho as mulheres realmente grandes, e digo grandes no bom sentido,
não gordas, mesmo que não tenha nada contra gordas, as gordas são legais,
muitas mulheres é que não querem ser gordas, eu juro que não me importo se uma
mulher é gorda ou se tem culotes, eu só queria dizer que gosto das mulheres,
sempre gostei, o que, é óbvio, não significa que tenha algo contra os homens
que não gostam de mulheres.
Não,
pelo amor de Deus, não vá pensar que sou homofóbico, os gays contam com toda a
minha solidariedade, e as lésbicas também, e cito as lésbicas por ter aprendido
há pouco que gays e lésbicas não são a mesma coisa e eu, na minha oceânica
ignorância, achava que todos eram gays, o que não quer dizer que antes não
tivesse consciência da justa luta dos gays e das lésbicas contra o preconceito,
é claro que tinha e os apoiava, apenas não sabia desses detalhes, de muita
coisa não sei.
Só
para se ter ideia, fui aprender a dirigir aos 40 anos de idade. Quarenta anos!
O que, por sinal, serve para deixar bem claro que não sou motorista radical,
inimigo dos ciclistas, andei muito de bicicleta e ando ainda, então é
importante frisar e ainda sublinhar e também gizar que sou um entusiasta do
mundo ciclístico, suas delícias e seus mistérios, e que só dirijo carro por
necessidade, não sou adversário da ecologia, defendo a Natureza com todas as
minhas forças, se recorro ao automóvel não é por gosto, não é como outras
questões de gosto, como comida, comida, sim: como carne vermelha por gosto,
mesmo achando lindo o vegetarianismo e salivando ao ver uma salada e até um
grão-de-bico, o que estou contando é que os bifes que volta e meia trincho e
mastigo são tão-somente questão de gosto, se bem que, olha, não vá achar que
sou um especista.
Não
sou! Amo os animais, em particular os vertebrados, embora nutra simpatia por
alguns invertebrados, como a borboleta, menos a mariposa, que é meio soturna,
ela não tem cores, é cinzenta ou preta, o que não significa que tenha algo contra
o preto, já disse, é só caso de preferência, e prefiro o branco e era isso que
queria dizer, que o branco da neve é bonito. Só. Sem nenhuma outra conotação.
Não me entenda mal.
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