BERNARDO MELLO
FRANCO
Janela da infidelidade
BRASÍLIA - No princípio, era o
caos. O político se candidatava a deputado pelo Partido do Não. Depois de
eleito, negociava seu passe e exercia o mandato pelo Partido do Sim. O
troca-troca turbinava a bancada governista e encolhia a oposição, distorcendo a
vontade do eleitor.
Assim funcionava o Congresso até
2007, quando o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que os mandatos pertenciam
às legendas. Quem insistisse em mudar de time seria cassado. Exceções, só em
casos excepcionais, como perseguição pessoal ou criação de uma nova sigla.
O sistema parecia se civilizar
quando Gilberto Kassab descobriu a chamada janela da infidelidade. Fundou o PSD
e atraiu 55 deputados ansiosos por se aproximar do poder. Ele fez questão de
anunciar que a legenda não seria "nem de direita, nem esquerda, nem de
centro". Para pular a cerca sem perder o cargo, bastava ser "a favor
do Brasil".
O truque deu certo, e o
ex-prefeito, que amargou um terceiro lugar na eleição para o Senado, acaba de
virar ministro de Dilma Rousseff. Agora ele quer repetir a dose. Vai criar
outra legenda, com o mesmo nome do finado Partido Liberal.
Os aliados de Kassab deixam claro
que o objetivo é driblar a lei. As assinaturas para registrar o PL estão sendo
coletadas por políticos do PSD. O plano é atrair o máximo de parlamentares,
fundar o novo partido e incorporá-lo ao já existente.
Na prática, o PL não funcionará:
só vai servir para abrir outra janela aos infiéis. Se a Justiça Eleitoral não
endurecer as regras e barrar a manobra, o ex-prefeito ainda conseguirá
barganhar mais um ministério.
O Carnaval ainda não chegou e a
roubalheira na Petrobras já virou piada nos blocos do Rio. Um folião tem saído
às ruas com um "pau de yousselfie", em homenagem ao doleiro que
distribuía verba desviada da estatal. No lugar do celular, pendurou um maço de
notas falsas.
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