24
de janeiro de 2015 | N° 18052
NÍLSON
SOUZA
CALENDAS
BRASILEIRAS
Ganhei
de presente um calendário de 2015 do meu amigo Laércio, que nos meses de
dezembro trabalha como Papai Noel num dos mais movimentados shoppings da
Capital. É um excelente vizinho: discreto, inteligente, está sempre de bom
humor e mantém permanente disposição maçônica para ajudar o próximo, como já
pude comprovar ao acompanhá-lo numa visita natalina ao Hospital São Pedro. Na
verdade, é Papai Noel o ano inteiro, até mesmo porque conserva intocáveis as
espessas barbas brancas que as crianças exigem do personagem.
Pois
bem, mas o tema desta crônica não é Papai Noel, e sim o seu presente. O
calendário de 2015, pelo qual já transitamos há mais de três semanas, assinala
nada menos do que 11 feriadões. Isso que a Proclamação da República, em 15 de
novembro, e o nosso 20 de Setembro, data farroupilha, caem no domingo. Mas as
demais folgas oficiais ou nem tão oficiais assim atingem as “feiras”, num total
de – pasmem! – 36 dias úteis que serão prazerosamente transformados por muitos
brasileiros em inúteis. Claro, estou incluindo aí até o Carnaval, que sequer é
considerado um feriado oficial.
Se
juntarmos os feriadões com os sábados e domingos normais, teremos seguramente
mais de cem dias de inatividade, quase um terço do ano. Quem tira férias
regularmente pode botar mais um mês aí. E há ainda os dias dedicados a
determinadas categorias profissionais, que obviamente não trabalham nas suas
datas.
Essa
farra de ócio nem sempre criativo me faz lembrar a letra de uma canção caipira
da minha infância, que dizia mais ou menos o seguinte: “Domingo eu vou à missa,
não posso trabalhar; segunda-feira é preguiça, preciso descansar. Terça-feira é
dia santo, se trabalho é pecado; na quarta fico doente, quinta-feira é feriado.
Sexta-feira eu não trabalho por ser dia de azar; sábado é fim de semana, também
quero descansar”.
Eta
nóis...
Somos
criativos, sim, especialmente para brincar com nossas próprias mazelas – e a
cultura dos feriadões talvez seja uma delas. Mas não vou generalizar, tem gente
que trabalha muito neste país. Meu amigo Papai Noel, por exemplo. Um dia
seremos todos como ele. Um dia que deve estar nas calendas gregas. Ou
brasileiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário