13
de janeiro de 2015 | N° 18041
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
COM AS ARMAS
DISPONÍVEIS
Uma
experiência ruim que tive, poucos anos atrás, foi a de precisar justificar ao
meu filho, então com uns quatro anos, as grades que cercam, meio
delirantemente, o edifício em que moramos, em Porto Alegre. Como explicar
aquela excrescência estética? Quem consegue gostar daquilo como parte da paisagem
diária?
Tentei
falar de modo ameno sobre riscos, assaltos que acontecem, bandidos, isso tudo.
Claro que havia, na pequena vida dele, alguns dados sobre isso – outras cercas,
gente do mal, personagens maus. É bem isso, meu filho, é disso que se trata.
Existe gente má, gente que faz mal, que é preciso manter longe. Sabe quando
aquele teu coleguinha te enche a paciência? Tu não tem que ficar sofrendo nada
por isso: se ele te incomodar, diz para ele parar, e se ele continuar tu sai de
perto, em último caso chama a professora.
Tudo
certo. Numas.
Agora
estamos cá em Paris e não há como escapar de ver cenas na TV acerca do atentado
e do sequestro, assim como do desfecho duro. Pessoalmente, nada de muito novo
se impôs ao nosso cotidiano, mas é claro que há algo no ar além dos aviões do
Barão de Itararé.
Na
escola, meus dois filhos, de oito e quatro anos, fizeram minuto de silêncio no
dia seguinte ao bárbaro, inaceitável crime contra o semanário. Foi em todo o
país que isso aconteceu. Pergunto qual foi a explicação, e me dizem que a profe
falou que era pelos mortos de uma ação de bandidos.
Bandidos.
Terá sido essa a palavra utilizada pela cautelosa professora? Ou foi a
tradução, a conversão cultural feita pelo menino brasileiro, que precisa
entender o mundo com suas escassas armas? Não há modo simples de abordar o
caso.
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