VINICIUS
TORRES FREIRE
Brasil, entre apagão e
recessão
Risco
crescente de falta de água e luz torna mais sombrios cenários econômicos para
2015
UMA
RECESSÃO neste 2015 vai livrar o país de algum tipo de racionamento de
eletricidade ou o risco de falta de luz e água vai tornar mais provável o
encolhimento da economia?
As
notícias da seca foram agourentas na sexta (16). A previsão de entrada de água
no sistema de geração de energia elétrica do Sudeste caiu para o equivalente a
44% da média histórica de 82 anos, segundo o Operador Nacional do Sistema
Elétrico, uma espécie de diretor-geral de trânsito da eletricidade no país. No
fim de 2014, a
previsão era de uma vazão próxima da média (em torno de 100%, pois). Institutos
de previsão do tempo então também acreditavam em chuvas algo acima da média
histórica. Não rolou.
Em
suma, os reservatórios do principal centro de geração de energia hidrelétrica
do país não estão se recompondo. Janeiro de 2015 está sendo tão frustrante
quanto janeiro de 2014. A
diferença é que o nível d'água está mais embaixo.
No
entanto, nos primeiros 13 dias do ano, o consumo de energia elétrica caiu 7,1%
em relação a janeiro de 2014, devido à lerdeza na produção industrial. A
estimativa é da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Nessa toada, o
risco de racionamento cai. Trata-se de um caso de estar entre a cruz do
racionamento e a caldeirinha da recessão.
Os economistas
do Banco Safra reduziram sua estimativa de crescimento do PIB neste ano de alta
de 0,3% para baixa de 0,5%. Um dos motivos que baseiam a previsão de
encolhimento da economia é o racionamento de água em São Paulo (um outro, mais
importante, é a crise da Petrobras).
Diz
o relatório semanal do banco: "Com o reconhecimento pelo governador
Geraldo Alckmim de que o racionamento já é em parte realidade, dada a situação
crítica do reservatório da Cantareira, julgamos necessário incorporar algum
efeito negativo associado a esse evento".
O
pessoal do Safra alerta para o fato de que "essa estimativa não embute um
risco ainda mais importante para a atividade econômica", o de racionamento
de energia elétrica.
Também
na sexta, os economistas do Banco Itaú reduziram sua previsão de crescimento do
PIB de 0,8% para 0,2%, mas não associaram esse rebaixamento ao ris- co de
escassez de água e luz. Ainda assim, anotam no seu relatório que "...a
perspectiva de pluviosida- de desfavorável em janeiro aumenta significativamente
os riscos para a oferta de energia elétrica em 2015. Mesmo considerando um
retorno à normalidade das chuvas a partir de fevereiro, em nosso cenário básico
os reservatórios agregados de energia elétrica em 30 de abril estarão abaixo do
mesmo período no ano passado".
Obviamente,
assim também cresce o risco de racionamento brabo em São Paulo. É tão curioso
quanto deprimente ler em relatórios de bancos comentários sobre o avanço da
falta d'água nos bairros da cidade.
Sobre
um eventual racionamento, o pessoal do Itaú escreve que a crise não seria tão
ruim quanto a de 2001, pois: 1) Há mais linhas de transmissão e usinas
termelétricas; 2) O consumo de energia em 2014 deve cair por causa de
crescimento modesto e eletricidade mais cara.
Venha
ou não um novo apagão, enfim, a conversa de crise de água e luz voltou a subir
muito de tom na praça do mercado.
vinit@uol.com.br
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