30
de janeiro de 2015 | N° 18058
MARCOS
PIANGERS
Quando aperto o
enviar
No
meu computador o botão de ‘enviar e-mail’ é um aviãozinho desenhado, um botão
que, se eu aperto, faz um barulhinho suuuuuuuchhhhhh, que mais parece um trem,
pra falar a verdade. Normalmente, nem presto atenção nele, quando é um e-mail
pra um colega, por exemplo. Aperto o botão e nem penso a respeito. Mas quando é
um e-mail que vai pra um monte de gente, como este aqui que eu vou mandar daqui
a pouco, sempre fico olhando aquele aviãozinho e pensando: o que será que vai
acontecer?
Não
sei como este texto chega a você. Se está deitado no sofá agora. Se acabou de acordar.
Se está lendo na área de serviço porque ali pega um sol gostoso e dá pra fumar.
Você que está lendo na recepção do prédio, esse jornal que é de outro vizinho.
Você que lê na banca, meio por cima, só pra ver se vale a pena comprar.
Não
sei se está no táxi esperando um cliente. Se está lendo no bar tomando um café.
Se é de noite ou é de dia. Se o jornal está amassado ou com cheiro de novo. Se
está lendo junto com alguém. Se está lendo isso porque alguém lhe deu este
texto pra ler. Dê um sorriso agora pra ele ver que você chegou a esta parte.
Não
sei se você é rico. Se é pobre. Se é gay. Se gosta do Led Zeppelin. Se tem
tatuagem. Se é cabeludo. Se mora com a mãe. Não sei se brigou com o irmão ou se
seu pai morreu. Nesse caso, meus sentimentos. Não sei se você está se sentindo
bem, acordou feliz e está pronto para a sexta-feira. Se está apaixonado. Se
agora está pensando nela. Se agora que leu isso vai mandar uma mensagem. Se vai
escrever “eu te amo”.
Talvez
esteja mal. As coisas não estão fáceis. Falta grana. Talvez esteja sozinho.
Quero dizer que estamos juntos, de alguma forma. Não sei se é estrangeiro, se
lê isso na internet. Se lê em um computador barulhento em cima da mesa de
escritório. Ou se lê isso enquanto o cachorro passeia no parque. Faça um
carinho no cusco, por todos aqueles que estão trabalhando neste momento.
Não
sei como este texto vai encontrar você.
Espero
que bem.
Suuuuuuuchhhhhh.
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