28
de janeiro de 2015 | N° 18056
MARTHA
MEDEIROS
Aos remos
Não
sou só eu que tenho a impressão de que estamos sentados sobre um barril de
pólvora. É só dar uma espiada nos comentários deixados nas redes sociais, em
conversas de bar, nas trocas de mensagens por WhatsApp, nos telejornais. O
Brasil descarrilou, e agora?
Apagões,
crise hídrica, obras superfaturadas que não terminam, escândalos de corrupção
em todas as esferas, ausência crônica de segurança, aumento de impostos, saúde
e educação vergonhosas, desgoverno evidente e início de uma recessão de que não
se conhece ainda as consequências. Uma amiga pergunta no Facebook: “Todo mundo
já decidiu para onde vai se mudar?”.
Ah,
se fosse fácil assim. Fazer as malas e se mandar para algum lugar em que se
pudesse caminhar pelas ruas sem medo, em que os policiais fossem bem treinados,
em que houvesse metrô e muitas ciclovias, em que não se racionasse nada, a luz
não caísse no meio da tarde e os tributos pagos revertessem em uma vida digna.
É claro que qualquer nação tem problemas, mas o Brasil abusou da prerrogativa.
Eu
adoraria fechar minhas contas e zarpar. Tenho condições de que raríssimas
pessoas dispõem para fazer isso, a começar pelo meu trabalho, que não depende
de nada a não ser de um laptop. Ainda assim, é muito difícil deixar amigos e
familiares. E é frustrante desistir. Quem deserta está colocando um ponto final
na confiança que um dia teve.
Por
ora, ficarei, mas me pergunto: como ajudar este raio de país? De nada adianta
declarar guerra à ponderação e incitar a violência. Em termos coletivos, o
melhor caminho continua a ser a defesa da imprensa livre e sair todos às ruas
de forma pacífica, como fizeram recentemente os parisienses por ocasião do
atentado à Charlie Hebdo, como fizeram os argentinos por ocasião da morte do
promotor Alberto Nisman, como fizemos nós mesmos em 2013 – é o jeito de exercer
pressão e mostrar que nosso povo não é tão mole quanto parece.
Detalhe:
de cara limpa, sem máscaras, sem queimar ônibus e destruir agências bancárias.
Depredações são prova de fraqueza, não de força.
Nossa
indignação coletiva precisa ser fotografada, filmada e difundida para o
Planalto e o planeta, sem deixarmos de lado as atitudes particulares, que são
fundamentais. É hora de agir com total responsabilidade dentro de casa,
apagando as luzes, fechando as torneiras, economizando os gastos do prédio, do
condomínio, da empresa.
Essa
corja política não merece nossos sacrifícios, eu sei, mas não podemos continuar
esperando que eles resolvam hoje o que nunca os preocupou antes. Temos que
tomar conta do Brasil, assumir este país que deu profundamente errado, mas que
é nosso. Porque até aqui, perdemos de lavada. Eles lavavam dinheiro e nós
lavávamos as mãos. Deu no que deu: escassez de água e de futuro.
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