sábado, 17 de janeiro de 2015


17 de janeiro de 2015 | N° 18045
NÍLSON SOUZA

CARICATURAS

Tenho quatro, emolduradas, no meu pequeno gabinete de trabalho, em casa. Uma delas foi feita por uma sobrinha querida quando tinha 10 anos. Desenhou o tio, com uma camisa listrada de azul e vermelho (olha a neutralidade aí) que eu não tirava nunca, e ainda com a barba escura. Vão-se lá 14 anos, tenho o maior apreço pela imagem que a menina fazia de mim.

Outra foi feita por um antigo porteiro do prédio onde trabalho. Sei lá por que razão o rapaz resolveu me homenagear com o desenho, acho que de tanto me ver passar diante do seu balcão nas idas e vindas da faina diária. Apesar da bolsa ridícula que colocou na minha mão, reconheço que está bastante parecida com o que o espelho me mostrava na época.

A terceira é assinada por Toto, jovem estudante de Publicidade, meu vizinho, que caprichou nos cabelos brancos e nas rugas de expressão.

A quarta foi feita por um profissional do traço, o talentoso companheiro Gilmar Fraga. Ficou horrível. Exagerou na careca, nas sobrancelhas, na barba, no nariz e no beiço. Mas sou eu, sem dúvida, com todas as minhas imperfeições – inclusive algumas do caráter que os caricaturistas têm o dom de flagrar nos olhares e nas expressões de nossa face.

Amo minhas caricaturas.

Elas me fazem sorrir de mim mesmo e me devolvem à realidade sempre que me excedo na autoconfiança. Como aquele lacaio do imperador romano que ficava o tempo todo assoprando no seu ouvido “lembra-te que és mortal”, meus retratos desenhados me passam recados silenciosos de moderação e humildade.

A caricatura é uma arma poderosa do jornalismo crítico – e se torna ainda mais eficiente quando os caricaturados se incomodam com a sátira. Por isso é usada por chargistas e cartunistas para provocar e constranger poderosos, sejam eles governantes, ditadores, profetas ou divindades. Ninguém está livre do olhar e do traço desses seres dotados da capacidade de enxergar além das aparências e de transportar para o rosto alheio – ou próprio – segredos da alma.

Só pode ser o medo de se ver como realmente são que faz algumas pessoas usarem as máscaras da violência.


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