01
de fevereiro de 2015 | N° 18060
ANTONIO
PRATA
Idade
Outro
dia, numa mesa de bar, hesitante e assustado, me dei conta de que eu não sabia
a minha idade. Trinta e seis parecia pouco, 38 parecia muito e 37, sei lá por
que, me soava meio estranho.
Que
era alguma coisa por aí, eu tinha certeza. Trinta e cinco eu tive já faz muito,
muito tempo, mas não tanto, tanto tempo que eu já pudesse estar com 40; não, se
eu fizesse 40 eu iria perceber, ou, no mínimo, iria ouvir algum comentário dos
mais próximos. Céus, como pode, a esta altura do campeonato – qual altura,
exatamente? – a pessoa ignorar quantos anos tem?
Quando
você é criança, a idade é um negócio fundamental. É o dado mais importante
depois do seu nome. Você aprende a mostrar nos dedos e passa uma década dizendo
“quatro, vou fazer cinco”, “cinco, vou fazer seis”, “seis, vou fazer sete” e
assim por diante. Lembro que, na época, eu achava de uma obviedade tacanha esse
“vou fazer”, mas hoje entendo: o desejo de crescer é uma parte fundamental do
software com o qual viemos ao mundo. “Seis, vou fazer sete” é menos uma
constatação óbvia do que uma saudável aspiração.
Na
adolescência a idade continua sendo importante. Afinal, a diferença entre 14 e 16
é, geralmente, a diferença entre Mario Bros. e o sexo. Pense no Mario Bros.,
pense no sexo e fica evidente que há certas coisas que só dois aniversários
fazem por você.
Dos 20
aos 30 avança-se lentamente, com sentimentos contraditórios. A escola foi há séculos,
mas ser adulto ainda é estranho. Pelo menos, adulto como aqueles anciãos de 30
que usam gírias “de pai”, dançam de um jeito engraçado e parecem ter aprendido
a se vestir em algum sitcom da Warner. A resposta sincera a quantos anos você tem,
nessa fase, seria: “26, queria fazer vinte e 25” , “25, queria fazer 24” , até chegar a 20 – acho que ninguém,
a não ser dopado por doses cavalares de nostalgia e amnésia, gostaria de ir além,
ou melhor, aquém, e voltar à adolescência.
Trinta
anos é uma idade marcante. Agora é inegável que você ficou adulto e se o seu
quarto ainda guarda algum vestígio da escola (uma coleção de latinhas? Um cone
de trânsito? Uma bandeira da Jamaica?) é o caso de refletir seriamente sobre a
sua autoimagem. Trinta e um, 32, você vai anotando, sem perder a conta. Mas aí você
faz 35 e entra numa zona cinzenta (ou grisalha?) em que idade não significa
mais muita coisa.
A
impressão que eu tenho, a esta altura do campeonato – qual altura, exatamente? –,
é que todo mundo tem a minha idade. Meus amigos de sessenta e poucos, meus amigos
de vinte e muitos. Trinta e dois? Quarenta e oito? Não sendo púbere nem gagá, tão
todos no mesmo barco, uns com mais dor nas costas, outros com os dentes mais
brancos, mas no mesmo barco, trabalhando, casando, separando e resmungando no
Facebook. Deve ser por isso que, sem perceber, parei de contar.
“Trinta
e sete, Antonio! Você tem 37!”, interveio minha mulher, lá no bar, meio brava
com o meu lapso. Ainda fiz as contas no celular, pra ter certeza. Era isso
mesmo. Trinta e sete, vou fazer 38, se Deus quiser e não morrermos todos sem água
e sem luz até agosto de 2015.
(É em
2015 que a gente tá, né?).
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