sábado, 10 de janeiro de 2015


11 de janeiro de 2015 | N° 18039
L. F. VERISSIMO

Gênio, gênio!

Pais preocupados com a possibilidade de seus filhos não serem gênios têm um consolo: o apelido do Albert Einstein quando criança era “der Depperte”, que em alemão quer dizer, mais ou menos, “o bobão”. Não desespere do garoto nem proíba videogames até que ele pegue um livro, portanto.

Ele ainda pode, um dia, revolucionar a Física. O próprio Einstein descreveu o momento em que revelou-se sua vocação para a especulação científica e, pode-se dizer, ele deixou de ser bobo. Foi quando ganhou uma bússola do seu pai e descobriu o magnetismo, e com ele a ideia fascinante de uma força invisível por trás de tudo. Quando cresceu, mais do que qualquer cientista na História do mundo, Einstein examinou e definiu, por dedução ou por intuição, essa força invisível.

O mais admirável nas conclusões de Einstein é o que ele intuiu. Muitas das suas teorias só foram provadas há relativamente pouco tempo, anos depois que ele as botou no papel. Uma vez, imaginei um encontro de Einstein com Deus (parênteses: se Einstein entraria no céu, mesmo depois da sua participação na construção das primeiras bombas atômicas, é discutível, mas, para efeito da minha parábola, ele entra). Assim que Einstein chega ao céu, Deus manda chamá-lo. Einstein vai ao escritório de Deus, indagando-se “o que será que o Velho quer comigo...?”. E, quando chega, a primeira coisa que Deus faz é pedir seu autógrafo!

Einstein fica embaraçado diante dos elogios de Deus. “Gênio, gênio!”, repete Deus.

– O que é isso, Senhor?

– As coisas que você descobriu sobre o Universo. Algumas eu nem tinha me dado conta!

– O que o senhor fez foi muito mais importante, Deus. E difícil de decifrar. Olhe, seu universo me deu trabalho, viu? Eu é que tenho de cumprimentá-Lo.

O entusiasmo de Deus parece diminuir.

– Você não está entendendo, Albert – diz Deus. – Não há comparação entre o meu trabalho e o seu. O que Eu fiz, fiz porque sou Deus. Posso fazer tudo. Você não tinha essa vantagem!

Einstein nota um certo ressentimento na voz de Deus. Decide ir embora antes que Deus, com ciúme, o fulmine com um raio. Quando sai do escritório, olha para trás e vê Deus se dirigindo para o armário de bebidas.

Quando visitou os Estados Unidos pela primeira vez, Einstein, na companhia da sua segunda mulher, Elsa, esteve em Hollywood e pediu para conhecer Charlie Chaplin. Este convidou o casal para acompanhá-lo na estreia do filme Luzes da Cidade. Ao descerem, os três, da limusine em frente ao cinema, o público aplaudiu-os, e Chaplin comentou para Einstein: “Eles me aplaudem porque entendem o que eu faço, e você porque ninguém entende o que você faz”.

Se a história é verdadeira, Chaplin acertou: Einstein ficou famoso pelo que fez, apesar de poucas pessoas no mundo terem a capacidade de entender o que era. Foi o maior exemplo de alguém que se torna uma celebridade sem que se saiba por quê. Só se sabia que ele era um gênio.


Einstein foi um namorador notório, mas só recentemente, num livro sobre a sua vida, ficou-se sabendo que ele esteve sob investigação do FBI por estar supostamente dormindo com uma espiã russa chamada Margarita Konenkova. Se houve ou se não houve alguma coisa entre eles dois, só o FBI ficou sabendo. Deve haver gravações de momentos íntimos de Einstein com a russa, mas que não adiantaram muito. Se ele revelou algum segredo atômico para a espiã na cama, os agentes do FBI também não entenderam nada.

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