27
de janeiro de 2015 | N° 18055
MÁRIO
CORSO
O ódio na
internet
Quando
usamos a palavra nazista para quem chutou um cachorro em um dia de fúria, que
palavra vamos usar para quem comete regularmente crimes hediondos contra a
humanidade? Mas a grande questão não é o desgaste semântico e o julgamento
sumário. A pergunta mais procedente é: a internet revela a agressividade que
está latente em nós ou é ela mesma que propicia um comportamento um tom acima
do que já usamos?
Acredito
na segunda hipótese, porque somos a primeira geração que massivamente usa a
internet. Ainda não temos uma cultura de convívio, uma etiqueta peculiar para
esse espaço. Recém chegados e broncos, ainda escarramos no chão e não sabemos
nos comportar. Somos os inventores e as cobaias dessa nova experiência de
convívio.
Agregue
a isso a ausência física do interlocutor, não há corpos presentes. Quando a
distância do outro aumenta, seu olhar não é visível, todas as ovelhas viram
lobos e a bravata toma conta. Acrescente ainda o imediatismo, a rapidez da rede
que permite fazer sem pensar. Escrever uma carta despendia tempo, até mandá-la
tínhamos refletido melhor. Agora, usamos o calor do momento, que é péssimo
conselheiro.
As
redes sociais são um meio quase de mão única: muita exposição e pouco retorno.
Somos narcisistas, mas acima disso somos carentes, queremos é ser notados,
admirados. Para tanto, num lugar onde todos falam ao mesmo tempo e ninguém
escuta, é natural que falemos aos berros. Tendemos ao exagero, ao insólito, ao
bizarro, para nos destacar da massa.
Talvez
a causa mais importante seja a sensação de irrelevância política dominante. O
cidadão médio considera-se impotente perante a realidade. Não se sente
representado por ninguém, as grandes discussões são complexas e ele pouco
entende. A rede é porosa para o desabafo do seu mal-estar. Acredita que pode
fazer política, ainda que minúscula, com suas investidas indignadas contra tudo
e todos. O efeito é apenas catártico, uma caricatura de intervenção social. Não
passa de ressentimento destilado, mas alivia.
Talvez
nosso olhar viciado coloque o termômetro em lugares errados. Por duas razões: o
que é bom não dá manchete, e compartilhamos uma ideia difusa de que vivemos um
momento de declínio moral e espiritual. Alardeamos que o tempo da utopia
acabou, viveríamos a época das distopias. Acalentamos, sem nenhuma base na
realidade, a crença de que enquanto civilização estaríamos, como nunca
anteriormente, rumando em direção à barbárie. Procuramos indícios do mito da
decadência para referendar essa tese e, para isso, nada melhor do que as
besteiras ditas sem pensar na internet.
De
qualquer forma, se o ministério do bom senso existisse, advertiria: aprecie as
redes sociais com moderação.
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