23
de janeiro de 2015 | N° 18051
DAVID
COIMBRA
Contra a TVE
Vou
desmentir meu título já na primeira linha. Não sou contra a TVE; sou a favor.
Quanto mais TVs, rádios, jornais e sites de internet houver, melhor para mim,
para os jornalistas em geral e para o público em especial. Foi precisamente por
isso, porque a existência da TVE me interessa, que a usei como exemplo durante
o Timeline da Gaúcha, dias atrás, ao falar sobre possíveis soluções para a
eterna crise do Rio Grande do Sul.
Meu
raciocínio é simples, sou um homem simples, de raciocínios simples, não raro
simplórios: há muitas décadas, o Estado não consegue cumprir com suas
obrigações básicas – Olívio Dutra calcula que o drama venha desde que Getúlio
foi presidente da província, em 1927. Seja. O certo é que, hoje, os professores
e os policiais são mal pagos, os presídios são masmorras medievais e os
brigadianos estão sendo retirados das ruas. Essas são tarefas essenciais. Ora,
se o governo não tem condições de exercê-las, haverá de fazer opções – tudo na
vida são escolhas e, quando você escolhe, você sempre perde algo. Não existe
escolha sem perda.
No
caso do Rio Grande, já foram tentadas todas as fórmulas, à esquerda e à
direita, e nenhuma funcionou. Logo, está na hora de optar. É preciso
acrescentar o que falta ao essencial. Então, talvez seja preciso subtrair o
supérfluo.
Não
considero a TVE supérflua, considero-a importante, mas o importante não é o
essencial: é “só” importante. O importante está a meio caminho entre o
essencial e o supérfluo. O ideal seria começar a desbastar pelo supérfluo, mas
pode ser que se chegue ao importante. Péssimo. Mas às vezes necessário.
Agora:
pode ser que a TVE seja essencial e eu não saiba disso. Não sei de muitas
coisas, já disse que sou um homem simples. Repito: uso a TVE como exemplo
intencionalmente, porque sou beneficiado de forma indireta por sua existência,
mas poderia usar dezenas de outros exemplos. Ou centenas.
Dei
a famosa “passada d’olhos”, com apóstrofo e tudo, no orçamento do Estado para
2015. É um documento interessante, muito bem elaborado pela equipe de Tarso
Genro, com gráficos variados e um histórico financeiro do RS. Fiquei espantado
com o número de obrigações do Estado. É como se fosse um pequeno país. Só que o
Estado não é um país, nenhum Estado brasileiro desfruta de real autonomia
federativa. Assim, parece-me que algumas, ou diversas, dessas funções poderiam
ser repassadas aos municípios, à União ou à iniciativa privada. Parece-me. Não
tenho conhecimento suficiente para fazer afirmações peremptórias.
Inclusive,
existe grande chance de alguém mais bem informado me convencer de que tudo,
absolutamente tudo que o Estado do Rio Grande do Sul faz é essencial, de que
nada é supérfluo, muito menos dispensável. Quer dizer: tem de ficar como está.
Se
for assim, paciência. A resignação também é uma virtude. Quem pode mais que
inscreva seus filhos em escolas particulares, que pague segurança privada, que
vá morar em condomínios fechadíssimos. Quem pode menos... O que fará quem pode
menos? Não sei qual é a resposta a essa pergunta. Tenho muitas perguntas e
poucas respostas. Sou, de fato, um homem simples.
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