16
de janeiro de 2015 | N° 18044
MARCOS
PIANGERS
Cabelo ao vento, gente jovem
reunida
Não
sei se a Janis Joplin agora é professora do Ensino Fundamental, mas minha filha
e todos os amigos dela, aparentemente, viraram hippies. Passam horas reunidos
em rodinhas, todos eles com seus equipamentos, cada um produzindo sua variedade
de pulseirinhas de elástico colorido. Passam horas na confecção e depois tentam
vender o artesanato para pobres adultos, que, desavisados, pagam dois, até três
reais por uma pulseira que muitas vezes aperta o pulso. A minha já pedi na cor
roxa pra minha filha, que é pra combinar com a gangrena que vai causar.
Não
quero ser saudosista, mas na minha época se brincava de estilingue, zarabatana,
brincadeiras saudáveis a todos, menos ao Otávio, que uma vez quase ficou cego.
Mas subíamos em árvores, explorávamos construções abandonadas, tudo muito
divertido, menos pro Otávio, que pisou num prego uma vez e teve que levar a
antitetânica. Bons tempos aqueles em que jogávamos futebol o dia todo, menos o
Otávio, que sempre torcia o pé.
E
não vamos muito longe. Até bem pouco tempo, as crianças jogavam jogos
saudáveis, como o Banco Imobiliário, que ensinava valores como a necessidade de
poupar o dinheiro, comprar imóveis quando tiver oportunidade e humilhar os
amigos mais pobres. Ou mesmo esses jogos de videogame, onde aprendíamos a dar
tiros em pessoas no meio da rua e a roubar carros e destruí-los batendo no
carro da polícia. Aquilo é que era um passatempo saudável.
Mas
essa nova geração está mesmo perdida, fazendo pulseirinha o dia todo e vendendo
para pobres adultos desavisados. Em cada residência agora temos um H. Stern da
bijuteria infantil, uma Tiffany & Co das borrachas coloridas. E onde estão
os carrinhos de rolimã? Onde estão as pipas com cerol? Onde estão as
brincadeiras com ovos que sempre acertavam aquela senhora do 502, para a
explosão de risadas de toda a criançada?
Menos
do Otávio, que sempre era pego e ficava de castigo.
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