sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


16 de janeiro de 2015 | N° 18044
ARTIGOS ZH

VERGONHA E ESPERANÇA

A vergonha, obviamente, justificada pelos crimes cometidos por agentes do governo e empresários. A esperança, esboçada na capacidade que hoje demonstra a nação de apurar os ilícitos e punir os culpados.

Mas, “por mais que roubem” – escreveu – “nunca poderão subornar a morte”, pois que “ela está logo ali em frente, aguardando seres humanos de todos os escalões, tanto os donos de jatinhos quanto os que puxam carroça”.

A inexorabilidade da morte seria, por si só, um estímulo à vida digna. Viver dignamente, atesta a experiência, conduz à morte igualmente digna. Para quem, no entanto, admite a sobrevivência do espírito e da consciência após o decesso físico, os males aqui praticados geram consequências que seguem sendo enfrentadas pelo agente.

Embora condutora de nossa cultura, a religião, com sua pregação de recompensas e castigos eternos, revelou-se incapaz de gerar uma ética apta à formação de uma sociedade livre da corrupção. Esta, infelizmente, impregna o Estado, os organismo sociais, suas mais caras instituições, inclusive a Igreja.

A filosofia espírita propõe uma visão mais ampla do tema. Acrescendo à questão da sobrevivência individual do espírito a sua condição evolutiva, admite que a busca dos valores imperecíveis é meta de todo ser consciente. Erros e acertos fazem parte desse processo. Mas o erro, em qualquer circunstância, gera sofrimento. Deste só se libera o espírito à medida que a experiência e o aprendizado lhe inspirarem mudanças efetivas de conduta em direção do bem.

Mais do que temer castigos prescritos pelos organismos estatais e as religiões, é preciso aprender a ler as leis da natureza e agir em sua conformidade. Quando convicto de que o mal praticado contra outros é a causa primordial do sofrimento, se é, inexoravelmente, conduzido a mudanças. O progresso, este é, sim, inexorável. E a morte, como elemento intrínseco da vida, torna-se, nessa visão, um degrau a mais no campo da responsabilidade individual e do equilíbrio social.

Vida após vida, morte após morte, vamos, assim, aprendendo a administrar nossas vergonhas e a ampliar nossa esperança em prol de tempos melhores.

Advogado e jornalista, presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - MILTON R. MEDRAN MOREIRA


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