24
de janeiro de 2015 | N° 18052
DAVID
COIMBRA
Um pedido para a deputada das
medalhas
Não
é verdade que a deputada Marisa Formolo, do PT, homenageou 21 parentes na
Assembleia Legislativa. Nada disso. Foi VOCÊ quem homenageou os 21 parentes da
deputada, o marido dela, seus filhos e netos, todos aqueles cunhados, mais um
genro e, o que mais me surpreende, uma nora – as mulheres em geral não se dão
bem com as noras.
Sim,
foi VOCÊ e, glup, eu também, porque a Assembleia Legislativa representa o povo
do Rio Grande do Sul. Nós é que pagamos aquelas medalhas que os Formolo
ostentarão com orgulho cívico na galinhada de domingo. Espero que ninguém deixe
a medalha que nós demos cair na sopa de capeletti.
A
deputada disse que tomou essa iniciativa para valorizar a família. Achei
bonito. Tanto que venho aqui, como contribuinte e cidadão, fazer uma
solicitação à parlamentar. É o seguinte:
Dona
Marisa, gostaria, por favor, que o povo do Rio Grande do Sul desse uma medalha
para a minha mãe.
Dona
Diva, o nome dela. A minha mãe, digo.
Veja,
deputada: minha mãe era professora da rede estadual de ensino. Só por isso ela
merecia ser homenageada. Ensinou as criancinhas por anos e anos e anos. Eu mesmo
testemunhei galalaus se aproximando emocionados dela e balbuciando, como se
ainda fossem meninotes:
_
Profe... A senhora me ensinou a tabuada...
Mas,
depois de se desquitar, minha mãe não conseguiu sustentar os três filhos com o
salário pago pelo mesmo Estado que paga o seu salário, deputada. Assim, ela foi
ser vendedora de livros da Abril Cultural. Trabalhava aos sábados, domingos e,
desta forma, os três filhos conseguiram fazer faculdade, sonho de toda família
descendente de imigrantes.
Verdade
que a minha mãe nunca foi do PT. Reconheço que isso pesa contra a concessão da
homenagem. Ser do PT é legal porque você pode fazer o que quiser, mentir na
campanha, montar caixa 2, tomar algum da Petrobras, tudo, e continuará com a
imagem de defensor dos oprimidos. Você pode até ser preso, que entrará no
presídio de punho cerrado, vitorioso, uma vítima dos poderosos. É lindo ser do
PT.
Li
também que seu irmão foi agraciado com a maior honraria do Estado porque foi
presidente de sindicato. Droga. Minha mãe nunca foi presidente de sindicato.
Não dava tempo! Ela tinha de trabalhar para pagar as prestações do BNH, as
contas da casa, os livros que a escola pedia todo começo de ano, essas coisas
que as pessoas que não têm medalha pagam.
Por
fim, fiquei sabendo que a senhora é autora do projeto de lei que institui a
Política Estadual de Apoio ao Bambu, no que, evidentemente, teve o respaldo e o
incentivo de toda a sua prolífica e engalanada família. Maldição! Que eu saiba,
minha mãe nunca deu muita bola para o bambu.
É...
pensando bem, deixa a minha mãe sem homenagem mesmo. Vou ter que avisar para a
dona Diva que o almoço de domingo vai ser sem medalha.
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