sexta-feira, 23 de janeiro de 2015


A “troika” dos bancos públicos e o seguro de Dilma contra a crise

A manutenção dos presidentes do BNDES, da Caixa e do BB deixa uma interrogação em relação à real disposição de Dilma mudar sua forma de governar no segundo mandato

JOSÉ FUCS - 21/01/2015 19h43 - Atualizado em 21/01/2015 20h09
 

BNDES (Foto: Divulgação)

Sede do BNDES, no Rio de Janeiro: operação-hospital para a Sete Brasil a pedido de Dilma (Foto: Divulgação)

Ainda não é oficial, mas tudo indica que, por enquanto, a presidente Dilma Rousseff vai manter nos cargos os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e da Caixa, Jorge Hereda. Ao menos por enquanto.

Embora a informação tenha passado meio batida pela mídia, ela pode significar muito mais que uma mera decisão burocrática.

Num momento em que o governo tem de adotar uma dura política de contenção de gastos e de aumento de impostos, para cobrir o rombo que Dilma deixou nas finanças públicas em seu primeiro mandato, a continuidade de Coutinho, Bendine e Herada no governo, pode representar para ela uma espécie de seguro contra a crise que se anuncia.

Homens de confiança de Dilma e donos da chave do cofre dos três grandes bancos públicos, eles poderão “irrigar” a economia com crédito farto se o ajuste comandado pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, demorar a produzir os resultados desejados e gerar uma paradeira que tenha efeitos perversos no emprego e na renda da população. Basta uma ordem da chefe para eles abrirem o cofre.

Um aperitivo do que pode acontecer foi a determinação recente de Dilma para que o BB e o BNDES socorram a Sete Brasil, a maior fornecedora da Petrobras no pré-sal, para evitar a quebra da empresa e a ocorrência de demissões no setor.

Como se tornou recorrente em seu primeiro mandato, Dilma não se intimidou em usar mais uma vez seu poder para interferir na política de concessão de crédito dos bancos públicos. Ela pediu a Coutinho e Bendine para destravar empréstimos de cerca de US$ 3,5 bilhões (R$ 9,1 bilhões) para a Sete Brasil poder contratar oito sondas de perfuração de petróleo para a Petrobras.

Pediu também a concessão de um “papagaio” de R$ 800 milhões para a empresa, que tem o banco BTG Pactual e os três maiores fundos de pensão estatais – Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa)  – como seus principais acionistas, resolver seu problema financeiro imediato.

A Caixa, por sua vez, é uma muleta à qual Dilma recorreu com frequência em seu primeiro mandato para cobrir despesas do governo e melhorar artificialmente as contas públicas. A instituição é alvo de uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) por ter usado recursos próprios para pagar obrigações do governo de responsabilidade do Tesouro Federal, como o Bolsa Família, o seguro-desemprego e o abono salarial – uma ação proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal. 

A continuidade dos três “banqueiros” de Dilma, portanto, deixa uma interrogação em relação à sua real determinação de mudar o seu jeito de governar e de fazer o que tem de ser feito para equilibrar as contas públicas. Levy está no caminho certo, apesar de as medidas anunciadas até agora representarem um custo penoso para a sociedade, mas a contenção do crédito é um capítulo essencial para a política de combate à inflação e para reforçar o ajuste que ele está promovendo.

Se os bancos públicos continuarem a despejar bilhões de reais na economia por motivação política, sem levar em conta os aspectos técnicos, com o objetivo populista de tentar tornar o ajuste menos doloroso, o dinheiro que entrar pela porta da Receita Federal acabará saindo pelos guichês da Caixa, do BB e do BNDES.


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