sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


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O MPL e sua sina

Voltam a ocorrer protestos contra aumento das tarifas de ônibus, trem e metrô; organizadores precisam condenar a tática da violência

As passagens de ônibus, congeladas desde 2011 em São Paulo, subiram menos que a inflação no período. O bilhete único, nas modalidades mensal, semanal e diário, não sofreu correção. Anunciou-se ainda que estudantes da rede pública ou de baixa renda terão até 50 viagens gratuitas por mês no transporte coletivo da capital.

Nada adiantou. Os paulistanos assistiram, na última sexta-feira (9), ao primeiro protesto do ano contra a alta das tarifas de ônibus, trem e metrô. Cerca de 5.000 pessoas, segundo a Polícia Militar --ou 30 mil, nas contas dos organizadores--, foram às ruas para criticar o aumento de R$ 3 para R$ 3,50.

Reeditam-se agora, guardadas as devidas proporções, as manifestações de junho de 2013, que tiveram o efeito não só de impedir o reajuste das passagens mas também de revelar um saudável inconformismo com a precariedade dos serviços públicos no país.

Também se repete, contudo, uma parte lamentável desse roteiro: depois de terem participado de uma caminhada pacífica, alguns manifestantes se desgarram dos demais para protagonizar cenas de vandalismo e violência, às quais se segue a reação truculenta e desastrada da polícia.

São os adeptos da tática "black bloc", em geral jovens encapuzados vestidos de preto que veem na depredação do patrimônio público e privado uma forma legítima de protesto. Sua presença nos atos demorou a ser destrinchada um ano e meio atrás, mas hoje já não representa nenhuma surpresa.

Não é aceitável, assim, que as tropas de segurança ainda se mostrem incapazes de conter esses grupos sem ameaçar, ao mesmo tempo, os diversos princípios democráticos em jogo. Seria de esperar que estivessem mais bem preparadas para assegurar o respeito à lei.

Tampouco é aceitável, entretanto, a atitude do Movimento Passe Livre (MPL). Responsável pela convocação das manifestações, a organização se recusa a condenar o "modus operandi" dos vândalos.

Tem sido sempre assim; foi na semana passada e dificilmente deixará de ser hoje (16), quando deve ocorrer mais um ato em São Paulo contra o aumento das tarifas.

Na superfície, o MPL alega não poder escolher quem participa dos protestos, mas por baixo do verniz democrático se esconde a verdadeira razão: o tumulto e o confronto integram uma fórmula eficaz para ampliar a repercussão dos eventos, embora nem sempre com o foco nas legítimas demandas.

Não há de ser por acaso que tantas outras entidades consigam terminar suas passeatas sem que se registrem episódios de descontrole. Nem todos os movimentos escolhem o caminho da violência porque a violência isola os movimentos que escolhem esse caminho.


O MPL tem mais uma oportunidade de mostrar de que lado está. Se insistir na omissão diante do quebra-quebra, será mais honesto abandonar o papel de vítima e assumir o de cúmplice.

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