LUIZ
FERNANDO VIANNA
E se os pobres...
RIO
DE JANEIRO - Os relativistas do massacre de 17 seres humanos em Paris usam,
paradoxalmente, expressões totalizantes: "os muçulmanos" (todos eles
oprimidos) reagiram a "os franceses" ou a "os europeus" (todos
eles opressores). Como tergiversar com os miolos estourados dos outros é refresco,
convém pensar numa situação brasileira.
Nesta
semana, duas jornalistas investiram em seus blogs contra "os pobres".
Hildegard Angel sugeriu que, para se combater os assaltos nas praias do Rio,
passem a ser cobrados ingressos dos banhistas e que se reduza o fluxo de ônibus
rumo à orla.
Silvia
Pilz escreveu que pobre adora ficar doente por causa das "facilidades que
os planos de saúde oferecem". Algumas passagens: "O pobre quer ter
uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda"; "a
grande preocupação do pobre é procriar"; "eu acho que o sonho de
muitos pobres é ter nódulos". Ela alegou depois que fazia humor.
Imaginemos
que "os pobres", já amuados pelo calor e pelos planos de Joaquim
Levy, resolvessem dar uns tiros nas duas madames. Afinal, eles foram duramente
ofendidos por elas. E, neste país, faz 500 anos que "os pobres" são
discriminados, massacrados.
Será
que os relativistas ficariam consternados pelos assassinatos e reconheceriam
que a liberdade de expressão protege até a estupidez? Ou diriam "mas... vejam
só... essas jornalistas da elite, representantes de uma imprensa
preconceituosa, mexeram com uma ferida social profunda, é uma opressão histórica..."?
Bem,
foi apenas um exercício de imaginação.
O
ministro da Cultura, Juca Ferreira, disse que sua pasta perdeu consistência
quando Dilma assumiu. Se ele é assim deselegante com a presidente que o nomeou,
imaginem o que fará com os inimigos.
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