sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


LUIZ FERNANDO VIANNA

E se os pobres...

RIO DE JANEIRO - Os relativistas do massacre de 17 seres humanos em Paris usam, paradoxalmente, expressões totalizantes: "os muçulmanos" (todos eles oprimidos) reagiram a "os franceses" ou a "os europeus" (todos eles opressores). Como tergiversar com os miolos estourados dos outros é refresco, convém pensar numa situação brasileira.

Nesta semana, duas jornalistas investiram em seus blogs contra "os pobres". Hildegard Angel sugeriu que, para se combater os assaltos nas praias do Rio, passem a ser cobrados ingressos dos banhistas e que se reduza o fluxo de ônibus rumo à orla.

Silvia Pilz escreveu que pobre adora ficar doente por causa das "facilidades que os planos de saúde oferecem". Algumas passagens: "O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda"; "a grande preocupação do pobre é procriar"; "eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos". Ela alegou depois que fazia humor.

Imaginemos que "os pobres", já amuados pelo calor e pelos planos de Joaquim Levy, resolvessem dar uns tiros nas duas madames. Afinal, eles foram duramente ofendidos por elas. E, neste país, faz 500 anos que "os pobres" são discriminados, massacrados.

Será que os relativistas ficariam consternados pelos assassinatos e reconheceriam que a liberdade de expressão protege até a estupidez? Ou diriam "mas... vejam só... essas jornalistas da elite, representantes de uma imprensa preconceituosa, mexeram com uma ferida social profunda, é uma opressão histórica..."?

Bem, foi apenas um exercício de imaginação.


O ministro da Cultura, Juca Ferreira, disse que sua pasta perdeu consistência quando Dilma assumiu. Se ele é assim deselegante com a presidente que o nomeou, imaginem o que fará com os inimigos.

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