SCOTT
LONG - TRADUÇÃO CLARA ALLAIN
Por que não sou
Charlie
Não
tenho que ser o outro para defendê-lo
RESUMO
Neste texto, originalmente publicado na blogosfera, o autor argumenta que o
repúdio ao atentado contra jornalistas do "Charlie Hebdo" não
pressupõe uma plena identificação com o que faziam e pensavam: "Posso
defender seu direito de publicar alguma coisa e ainda assim condenar o que você
publica".
Não
existe "mas" em relação ao que aconteceu na redação do "Charlie
Hebdo". Pessoas publicaram algumas charges, e outras pessoas as mataram
por isso. Palavras e imagens podem ser belas ou repugnantes, agradáveis ou
enfurecedoras, inspiradoras ou ofensivas, mas elas existem em um plano
diferente da violência física, quer você queira chamar esse plano de espírito,
imaginação ou cultura --e combater palavras e imagens com violência é uma
ofensa ao espírito, à imaginação e à cultura que caracterizam os humanos.
Nada
pode mitigar essa monstruosidade. Haverá tempo para analisar por que os
assassinos o fizeram, tempo para decompor o passado e a origem deles, suas
ideologias, suas crenças, tempo para sociólogos e psicólogos ampliarem a
compreensão do que aconteceu. Haverá explicações, e as explicações serão
importantes, mas explicações não são a mesma coisa que desculpas. Palavras não
matam, elas não devem ser combatidas com a morte e elas não apagarão a culpa
dos que mataram.
Mas
repudiar o que foi feito às vítimas não é o mesmo que se transformar nelas.
Isso é verdade no plano mais simples: não posso ocupar o eu de outra pessoa,
não posso compartilhar a morte de outro. É verdade também ao nível moral: não
posso me apropriar dos perigos que outras pessoas enfrentaram ou do sofrimento
que suportaram, não posso colonizar sua experiência, e é arrogância fazer de
conta que posso. Não seria necessário explicitar isso, não fosse pela enxurrada
de hashtags, avatares e posturas assumidas online proclamando #JeSuisCharlie,
que submerge as distinções e passa por cima do que é importante.
"Precisamos
todos tentar ser 'Charlie', não apenas hoje, mas todos os dias", pontifica
a "New Yorker". O que diabos isso quer dizer? Na vida real a
solidariedade assume muitas formas, quase todas difíceis. Este tipo de
solidariedade fácil, de baixo custo e isenta de riscos só é possível na era das
mídias sociais, onde você pode assumir uma atitude, alguém a vê em sua linha do
tempo e então segue adiante e tudo é esquecido, exceto pelo sentimento de
realização que lhe proporcionou.
A
solidariedade é difícil porque não diz respeito a identificações imaginárias.
Exige esforço para transpor o abismo implícito em não ser outra pessoa: por
exemplo, reconhecer que alguém morreu por ser diferente de você naquilo que
fazia, acreditava, era ou vestia, não por ser igual. Se pessoas que estão
sentindo sofrimento concreto ou choque ou indignação abstratos se reconfortam
ao proclamar uma unidade que parece preencher o vazio, isso cumpre uma
finalidade emocional. Mas não se deve confundir esses credos cartesianos
proclamados no Twitter --sou "Charlie", logo existo-- com atos
políticos.
O
objetivo parece ser apagar diferenças; e talvez isso seja apropriado no caso das
charges do "Charlie", cuja força era derivada do desprezo pensado que
manifestavam em relação a pessoas que tinham a temeridade de ser diferentes.
Muitos citaram Voltaire. A mesma frase está presente em todo lugar em minhas
várias linhas do tempo: "Não concordo com o que você diz, mas defenderei
até a morte seu direito de dizê-lo".
LIVRE
EXPRESSÃO "Essas 16 palavras dando a volta ao mundo falam mais alto que o
pipocar de balas e representam cada caneta que é brandida por um braço
estendido", diz um site de jornalismo australiano. (Deixemos de lado o
fato de que elas não foram escritas por Voltaire, mas por um de seus
biógrafos). Mas a maioria das pessoas que as repetem não quer dizer exatamente
isso. Na realidade modificam sutilmente a mensagem voltairiana: a mensagem hoje
é "tenho que concordar com o que você diz para poder defendê-lo".
A
que outra razão se deve a insistência de que não basta condenar a matança? Não:
todos nós precisamos endossar as charges, e não só isso, republicá-las. Assim,
a "Index on Censorship", uma revista que antigamente se opunha à
censura, mas agora diz às pessoas o que podem ou não podem dizer, conclamou
todos os jornais a republicarem as charges:
"Pensamos
que é apenas com a solidariedade --mostrando que defendemos verdadeiramente
todos os que exercem seu direito de se expressar livremente-- que poderemos
derrotar aqueles que recorrem à violência para silenciar a livre
expressão". Mas repetir o que você diz é o mesmo que defender você? E será
que é realmente "solidariedade" quando, em vez de eu me engajar com
você, passando por cima de nossas diferenças, simplesmente papagueio o que você
diz, sem refletir sobre o que significa?
Mas
não: se você não reproduz as charges, você está em conluio com os assassinos,
você é um covarde. Assim o site de direita "Daily Caller" publicou
uma lista de covardes servos da jihad na mídia que se opõem à liberdade de
expressão pelo fato de não fazerem o que foi ordenado. Castiguem esses censores
até eles dizerem o que lhes mandamos dizer!
"Deveriam
se envergonhar!", escreveram em sua conta do Twitter. Se você não
concordar com o que disse o "Charlie Hebdo", os terroristas terão
vencido.
Com
seu silêncio, você não está apenas se dobrando diante dos terroristas. De
acordo com Tarek Fatah, colunista canadense com viés fascista evidente, o
silêncio é terrorismo. "Se você é muçulmano, está nas redes sociais e
ainda não tuitou 'Eu sou #CharlieHebdo', então você é islâmico e é nosso
inimigo", escreveu ele.
É
claro que qualquer muçulmano no Ocidente sabe que ser chamado de "nosso
inimigo" é uma ameaça direta; você tirou o cartão "vai para
Guantánamo". Mas pense no seguinte: esse idiota pensa que está defendendo
a liberdade de expressão. Como? Dizendo às pessoas exatamente o que elas têm
que dizer e ameaçando as que resistem taxando-as de traidoras. O Ministério da
Verdade abriu uma representação em Toronto.
Existe
uma razão muito boa para não republicar as charges, razão que não tem nada a
ver com covardia ou cautela. Eu me nego a postar as charges porque as considero
racistas e ofensivas. Posso defender seu direito de publicar alguma coisa e
ainda assim condenar o que você publica. Posso defender o que você diz e ainda
dizer que está errado --não é essa a mensagem da frase de Voltaire (que não é
de Voltaire)? Posso considerar que os governos não devam colocar na prisão as
pessoas que negam o Holocausto, mas isso não me obriga a negar o Holocausto, eu
mesmo.
É
verdade, como diz Salman Rushdie, que "ninguém tem o direito de não ser
ofendido". Você não deve chamar a lei para censurar ou calar o livre
discurso apenas porque este o insulta ou fere suas convicções. Você certamente
não tem o direito de matar porque ouviu alguma coisa que o desagradou. No
entanto, sob o peso desses momentos de ultraje em massa, também esse truísmo se
converte em uma afirmação diferente: que ninguém tem o direito de se ofender, e
ponto final.
Eu
me ofendo, sim, quando os setores já oprimidos de uma sociedade são insultados
intencionalmente. Não quero participar. O crime cometido em Paris não suspende
minha capacidade de julgamento político ou ético, nem me convence de que
difamar escatologicamente a identidade e as crenças de uma minoria periférica
seja uma atitude razoável. Mas isso significa rejeitar a única reação
autorizada à atrocidade. Estranhamente, essa pressão de pares parece entrar em
ação única e exclusivamente quando o islã está envolvido. Quando recentemente
um racista atirou uma bomba em uma representação de uma organização americana
de direitos civis, a mídia não insistiu que eu fizesse uma doação à NAACP
(Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor) a título de
solidariedade.
Quando
um direitista islamofóbico fanático matou 77 noruegueses em 2011, a maioria deles num acampamento
de jovens de um partido político, não notei muitas hashtags #EuSouNoruega nem
chamados veementes para as pessoas ingressarem no Partido Trabalhista
Norueguês. Mas o islã está presente para nós: ele nos une contra o islã. Apenas
covardes ou traidores recusam a filiação ao clube "Charlie". A
exigência de aderir, de endossar, de concordar, visa nos juntar todos em um
rebanho onde ninguém tem a permissão de fazer ressalvas ou condenar: uma turba
indiferente, onde divergir de outras pessoas é um crime de pensamento, enquanto
a indiferença diante do sofrimento de outros que não fazem parte do rebanho é
obrigatória.
SÁTIRA
Nos últimos dias ouvimos falar muito em sátira. Ouvimos que a sátira não deve
causar ofensa, porque é uma arma dos fracos: "Os satiristas sempre chamam
a atenção para as manias e fraquezas dos mais poderosos". E ouvimos que,
se a sátira visa a todos, as investidas no racismo, na islamofobia e no
antissemitismo podem ser explicadas e desculpadas. O "Charlie Hebdo"
"tem sido uma celebração contínua da liberdade de zombar de todos e de
tudo...
Praticava
uma sátira livre e indigesta, sem contornos ideológicos claros". É claro
que a sátira que ataca todos os alvos e qualquer alvo por definição não mira
apenas os poderosos. "A lei, em sua igualdade majestosa, proíbe não apenas
os pobres, mas também os ricos de dormir debaixo de pontes", escreveu
Anatole France; a sátira que fere tanto poderosos quanto fracos o faz com
efeitos diferentes. Dizer que o presidente da República é um tarado não é o
mesmo que acusar imigrantes muçulmanos não identificados de bestialismo. Algo
que apenas irrita um pode aprofundar a opressão sistemática de outro. Defender
a sátira porque ela é indiscriminada é reconhecer que ela discrimina os
indefesos.
Kierkegaard,
o maior satirista de seu século, relatou um sonho seu: "Fui carregado para
o Sétimo Céu. Ali todos os deuses estavam reunidos". Os deuses lhe
concederam um desejo: "Contemporâneos honrados, escolho uma coisa: que eu
sempre possa ter o riso do meu lado". Kierkegaard sabia do que estava
falando: crianças zombavam dele e lhe atiravam pedras nas ruas de Copenhague,
por seu torso de macaco e seu andar desajeitado. Sua fantasia, em que ele vira
o jogo, é a verdade em relação à sátira. A sátira é um exercício do poder. Ela
reivindica superioridade, aspira vencer e, por isso, sempre se ergue sobre os
fracos, julgando-os. Se ela ataca os poderosos, é porque existe uma ânsia
subjacente à sua aspereza: a sátira deseja o que eles possuem.
Como
escreveu Adorno: "Aquele que tem o riso do seu lado não precisa de provas.
Historicamente, portanto, durante milhares de anos, até o tempo de Voltaire, a
sátira preferiu tomar o partido do lado mais forte, com o qual era possível
contar --o lado da autoridade". A ironia, ele acrescentou, "nunca
chegou a se despir por completo de seu legado autoritário, sua malícia não
rebelde".
A
sátira se alia ao que é autoevidente, às ideias recebidas, o arsenal dos
fortes. Ela se inclui no time do futuro, esse rolo compressor, contra o passado
em perigo de extinção, o time da opinião bem-sucedida contra o da opinião
superada. A sátira sempre se alimentou da rejeição às minorias, aos povos
marginais, aos modos de vida tradicionais ou em desaparecimento. Disse Adorno:
"Toda a sátira ignora as forças desencadeadas pela decadência".
O
"Charlie Hebdo", afirma agora a "New Yorker, "levava
adiante a tradição de Voltaire". Esse é tido como o deus da sátira;
qualquer francês ateu e irreverente é comparado a ele. Todo o mundo se recorda
de suas diatribes contra o poder da Igreja Católica: "Écrasez
l'Infâme!" (esmaguem o infame). Mas o que frequentemente é esquecido em
meio à bajulação de sua espirituosidade é o fato de que Voltaire detestava uma
religião sem poder, aquela cujos fiéis eram os outsiders de sua própria era, a
minoria imigrante "medieval" e "bárbara" que assolava a
Europa: os judeus.
O
antissemitismo de Voltaire era abrangente. Em seu desprezo pelo supostamente
"primitivo", antecipou muito do que é dito hoje na Europa e nos
Estados Unidos sobre os muçulmanos. "Os judeus nunca foram filósofos
naturais, geômetras ou astrônomos", Voltaire declarou. Sua frase remete ao
islamófobo-chefe, Richard Dawkins:
"Todos
os muçulmanos do mundo juntos têm menos Prêmios Nobel que o Trinity College de
Cambridge. Mas eles fizeram grandes coisas na Idade Média", escreveu
Dawkins em seu Twitter.
ISLAMOFOBIA
Os judeus, escreveu Voltaire, são "apenas um povo ignorante e bárbaro que
há muito tempo soma a avareza mais sórdida à superstição mais odiosa e ao ódio
mais invencível por todos os povos pelos quais são tolerados e
enriquecidos". Quando algum ignorante americano de direita chama os
muçulmanos de "goatfuckers" ("fodedores de cabras"),
poderíamos pensar que ele está usando algum xingamento antigo da região dos
Apalaches. Na realidade, está repetindo as piadas que Voltaire fazia sobre
judeus. "Vocês alegam que suas mães não tinham relações com bodes, nem
seus pais com cabras", Voltaire disse a eles. "Mas me digam,
cavalheiros, por que são o único povo sobre a terra cujas leis proíbem tais
relações? Algum legislador teria cogitado promulgar essa lei extraordinária se
o delito não fosse algo comum?"
Ninguém
deseja que Voltaire tivesse sido assassinado por suas calúnias. Se algum judeu
ou muçulmano indignado (ele tampouco tinha muito apreço pelos "maometanos")
o tivesse assassinado no meio de sua carreira, o mundo inteiro teria lamentado
a abominação. Nos trechos mais "judeofóbicos" de seus escritos, ainda
posso sentir prazer com seu texto incisivo --se bem que alguns possam ter
dificuldade em apreciá-lo, mesmo 250 anos mais tarde. Mesmo assim, gostar de
seu estilo não quer dizer que eu aceite sua mensagem piamente.
#JeSuisPasVoltaire. A maioria de seus admiradores evita falar de seu
antissemitismo ou o oculta.
Eles
sabem que, embora o escárnio de Voltaire divirta as pessoas quando é
direcionado contra o poderoso e inacessível papa, torna-se sombrio e azedo
quando difama uma comunidade fraca e desprezada. A sátira às vezes pode nos
libertar, mas ela não é imune a nossos preconceitos ou ódios. Ela não deve
apagar nossa capacidade crítica; qualificar algo como "sátira" não o
isenta de ser avaliado. A superioridade que o satirista se arroga sobre os
fracos pode ser arrogante e também sinistra. No ano passado, um ex-colaborador
do "Charlie Hebdo" acusou os editores do jornal de conivência com o
racismo e avisou: "A convicção de ser um ser superior, dotado do poder de
olhar de cima para os comuns mortais, é a maneira mais certeira de sabotar suas
próprias defesas intelectuais".
É
claro que Voltaire não percebia que suas vítimas judias eram fracas ou
impotentes. Já no século 18 ele as enxergava como tentáculos de uma conspiração
financeira; sua propensão por gastar além de suas possibilidades e endividar-se
com agiotas judeus ajudou em muito a moldar seu antissemitismo. Do mesmo modo,
o "Charlie Hebdo" e outras publicações semelhantes nunca trataram os
imigrantes muçulmanos como indivíduos, mas como agentes de alguma força maior.
Não
os viam como pessoas que se esforçam da melhor maneira que conseguem em um país
inamistoso, mas como sinônimos de ignorância religiosa em massa, ou de
fanatismo terrorista tribal ou, ainda, de riqueza petrolífera obscena. A sátira
incorpora a pessoa humana em uma generalização inumana. O muçulmano não é
simplesmente um muçulmano, mas um símbolo do islã.
AGLUTINADOR
É aqui que os islâmicos políticos e os islamófobos se encontram. Eles se apegam
a ideologias aglutinadoras; fundem as pessoas em uma massa; apagam os atributos
e aspirações dos indivíduos e os juntam numa visão totalizadora do significado
da identidade. Um muçulmano é sua religião. Você pode responsabilizar um
muçulmano pelo que qualquer muçulmano faz.
Logo,
todos os muçulmanos precisam postar #JeSuisCharlie obsessivamente em sinal de
penitência ou para pedir desculpas pelo que o outro bilhão de muçulmanos está
fazendo. O humorista e crítico social australiano Aamer Rahman tuitou:
"Como um muçulmano qualquer, vou pedir desculpas por este incidente em
Paris se pessoas brancas quaisquer pedirem desculpas pelo imperialismo, os
ataques de drones e Iggy Azalea".
Algumas
horas mais tarde ele foi obrigado a acrescentar:
"Ok,
internet, recusar-se a aceitar a responsabilidade pelo assassinato de alguém ou
a pedir desculpas pelo assassinato não quer dizer que você endossa ou celebra
esse assassinato".
Essa
insistência sobre a responsabilidade contagiosa, sobre a culpa coletiva, é o
outro lado da moeda do #JeSuisCharlie. É o #VocêsSãoEstadoIslâmico;
#VocêsSãoAlQaeda. Nossa solidariedade, nossa capacidade de nos fundirmos em uma
unidade calorosa e inconsciente e sentirmos que estamos fazendo alguma coisa,
depende da solidariedade involuntária de vocês, de vocês perderem sua
individualidade declarada, fundindo-se numa massa ameaçadora.
Não
podemos nos unir aqui a não ser que imaginemos vocês, ali do outro lado,
postados como nossos adversários. Os antagonistas são falsos, mas estão
interligados, são inevitáveis. O discurso se endurece. Geert Wilders, líder
direitista e racista holandês, disse que as matanças significam que é hora de "desislamizar
nosso país". Nigel Farage, sua contraparte no Reino Unido, descreveu os
muçulmanos como "uma quinta coluna, pessoas que carregam nossos
passaportes e que nos odeiam". Juan Cole escreve que o ataque ao
"Charlie Hebdo" foi um "ataque estratégico, que teve por
objetivo polarizar o público francês e europeu" --"afiar as
contradições". E os punhais de ambos os lados também estão sendo afiados.
Perdemos
nossa capacidade de imaginar soluções políticas quando deixamos de pensar
criticamente, quando deixamos que nossas identificações emocionais nos empurrem
para substitutos artificiais da solidariedade e da ação. Perdemos nossa
capacidade de reagir a atrocidades quando começamos a enxergar pessoas não como
indivíduos, mas como símbolos.
Mudar
de avatares na mídia social é uma forma patética de desviar nossa atenção das
realidades sociais em transformação. Para combater a violência, é preciso
encarar de frente, sem medo, as desigualdades e práticas concretas que a
alimentam. Você não vai combater a violência com atos de coragem em sua tela de
computador, atos que não arriscam ou mudam nada.
Para
proteger a liberdade de expressão que está ameaçada é preciso ouvir e discutir
o teor do que foi dito, e não negá-lo. Isso significa procurar criar um diálogo
com aqueles que condenam ou discordam pacificamente, e não envergonhá-los até
reduzi-los ao silêncio. Nada é rápido, nada é fácil. Nenhuma solidariedade é
segura. Eu defendo a liberdade de expressão. Sou contra toda a censura. Repudio
os assassinatos. Choro os mortos. Não sou "Charlie".
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