12 de janeiro de 2015 |
N° 18040
MARCELO CARNEIRO DA
CUNHA
“The Game” e o que a Inglaterra
tem
Vendo a minissérie The Game, da
BBC America, me vem essa sensação feiosa a.k.a inveja da grossa. Como a
Inglaterra tem atores, minha gente! Eles dão em árvore, só pode ser. Tem que
ser a água do Tâmisa, o fog londrino, a torta de rim pela manhã, o chá com leite,
a batida do Big Ben. Alguma explicação tem que haver para essas hipersafras de
atores bons de doer que eles tiram do chapéu-coco a cada nova produção de TV ou
cinema. Parece que eles são jogados em um caldeirão de teatro elisabetano
quando criancinhas e ficam bons assim, de dar raiva.
The Game é uma história de
espionagem situada em Londres, nos anos 1970. E a recriação da época é
primorosa. O papel de parede, os cabelos, os vidros fumê. A gente olha e se
sente transportado para alguma agência da Caixa Econômica Federal,
impressionante.
Os anos são os 1970, a Guerra
Fria segue firme e forte, e os ingleses fazem enormes esforços para mostrar que
ainda estão no jogo, quando, na verdade, ele passou há horas a ser o jogo de
gente grande, o que então queria dizer americanos e russos.
Um grupo de agentes do MI-5 segue
firme na luta, fazendo de conta que eles sabem o que estão fazendo, o que nem
sempre se mostra muito convincente na tela. E que grupo, caros leitores. O
chefe, cujo nome ninguém sabe, é chamado carinhosamente de Daddy. O ator, Brian
Cox, pode e deve ser visto na ótima série australiana The Straits, já
mencionada na nossa humilde coluna, vejam.
Os demais membros do time são
Bobby, suavemente esquisito e levemente assustador; Joe, o bonitão sem ética ou
alma; Sarah, cerebral e boa esposa de um coadjuvante da sua equipe, e a tímida
Wendy e seu cabelo indescritível. Eles sozinhos, sem plot nem cenário, já valem
o tempo gasto diante da sua telona de LED, caros leitores.
Os russos estão por toda parte, a
tecnologia é divertidamente ultrapassada para o que o nosso mundo se tornou, e
eu acho o roteirista meio abalado pelo uso excessivo de sherry depois das
refeições, mas ainda assim, o conjunto é uma beleza.
Janeiro mal começou e vocês devem
andar com tempo de sobra. Aproveitem para ver e invejar, porque esse é apenas
um dos muitos exemplos do que os ingleses são capazes de fazer, e que nos
deixam assim, embasbacados. Embasbaquem-se com The Game, e vamos em frente.
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