sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


BERNARDO MELLO FRANCO

A carteira de Gabrielli

BRASÍLIA - Se José Sérgio Gabrielli fosse uma empresa, seria possível dizer que suas ações despencaram tanto quanto as da Petrobras.

Durante sete anos, o economista filiado ao PT pontificou como presidente da estatal e um dos homens mais influentes da era Lula. Conduziu a "maior capitalização da história". Anunciou a descoberta do pré-sal. Proclamou a autossuficiência do país na produção de petróleo.

Ao deixar o cargo, em fevereiro de 2012, era visto como o futuro governador da Bahia. Instalou-se no secretariado do petista Jaques Wagner e começou a monitorar o relógio. Sua eleição seria apenas questão de tempo: dois anos e oito meses.

O plano foi implodido pela Operação Lava Jato, que encontrou desvios bilionários na Petrobras sob sua gestão. Gabrielli foi responsabilizado por um dos maiores prejuízos em seis décadas de empresa. Três de seu diretores foram presos. O Ministério Público o processou por improbidade administrativa e pediu o bloqueio de seus bens.

A cotação do petista entrou em queda livre. Ele foi afastado da eleição baiana. Parou de dar entrevistas. Por fim, faltou à diplomação do governador Rui Costa, que tomou seu lugar como candidato do PT.

Na quarta (14), o nome de Gabrielli voltou a aparecer em letras miúdas no "Diário Oficial" da Bahia. Por exigência da lei, ele entregou uma declaração atualizada de bens ao sair da administração estadual.

O documento revela que o economista é dono de uma carteira respeitável na Bolsa. Tem ações de 17 empresas, das Lojas Americanas ao Itaú. Os papéis somam R$ 1,4 milhão. O dado curioso: mantém apenas R$ 120 aplicados na Petrobras.


Embora tenha dito à Justiça Federal que nada sabia sobre o esquema de corrupção na estatal, Gabrielli é um homem bem informado. Deve ter motivos para deixar menos de 0,01% de seus investimentos na empresa que comandou. Questionado pela coluna, ele preferiu o silêncio.

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