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quarta-feira, 2 de novembro de 2011
02 de novembro de 2011 | N° 16874
PAULO SANT’ANA
O nó na tripa
Perguntaram-me como eu me sentia. Respondi: “Sinto-me como se tivesse um nó na tripa”.
Retrucaram-me: “O que se passa contigo?”. Respondi: “Não passa nada, está bem amarrado o nó da tripa”.
Vocês nunca se sentiram como se tivesse um nó na tripa? Logo eu, cujo forte é o meu aparelho digestivo, nunca tive nada abaixo do meu pescoço.
Tenho receio de que o nó na tripa seja o final de tudo. Tudo vai parar naquele nó, não segue adiante.
O nó na tripa me soa como o fim dos tempos.
Quem atou esse nó?
Quem foi capaz de me separar do mundo por esse nó?
Sem dúvida alguma, o progresso melhorou a nossa vida. Noto isso por essa gilete com cinco lâminas que lançaram recentemente e com a qual tenho feito a minha barba.
Fazer a barba sempre foi para mim um suplício. Se é verdade que sempre consegui arrancar toda a minha barba, porém, antes das cinco lâminas, sempre me restavam os talhos, o sangue, os rastros visíveis das cruentas operações.
Agora, com as cinco lâminas, o aparelho desliza suavemente pelos recônditos das minhas rugas, penetra sutilmente naquelas zonas de tênue fronteira entre os lábios e as bochechas, vai até atrás das minhas orelhas e me tira de lá os pelos que se transferiram com aquela cirurgia plástica que me fez o Pitanguy.
Uma delícia o exercício da minha barba. Depois de ela feita, sem restar nenhum pelo em toda a minha face, passo pelo rosto um leite de cabra, mais tarde um óleo desinfetante e estou pronto para mostrar meu rosto no Jornal do Almoço.
Aconselho a todos os seres masculinos que usem estas giletes de cinco lâminas, a vida me ficou bem mais fácil depois delas.
Mas me resta um problema: são as quatro pontas das unhas dos dedões dos pés que teimam em encravar.
Desde criança, as unhas dos meus dedões se encravam. Elas foram responsáveis por eu, na adolescência, ter de largar o futebol, deixando de me tornar o maior centroavante da história do futebol brasileiro, a julgar pelo estupendo rendimento que apresentava nas peladas do Partenon.
Mas aí vieram as minhas unhas encravadas e acabaram com a minha carreira.
Ainda mais doloroso se tornou o meu convívio com as unhas encravadas porque o calçado que meu pai designou para mim na infância foram os tamancos. Unha encravada com tamanco duro é sinal de tormentoso casamento. Ah, só eu sei o quanto sofri!
Não sei aparar as pontas das unhas dos dedões sem encravá-las. Inicialmente, usei de uma pedicure.Pois a danada me encravou pior ainda as unhas.
Então, me aconselharam uma podóloga. Achei o nome estranho, mas ela também não acertou com as minhas unhas.
Restou-me, parece-me que perpetuamente, a minha relação própria com minhas unhas encravadas.
Minhas unhas teimam em desbordar daquela canaleta que as separa dos dedos e penetram na carne. Dói, incomoda, vendo bem foi o principal martírio da minha vida.
Se alguém souber de uma podóloga que me solucione esse dolorido impasse, serei grato pela informação.
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