sábado, 26 de novembro de 2011



26 de novembro de 2011 | N° 16898
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Martín Fierro e o Rio Grande do Sul (2)

Martín Fierro não é o meu herói predileto. Chora demais, não demonstra arrependimento pelo que fez e sua relação com Cruz é marcada por uma efusão emocional em tudo distante da alma do gaúcho. Como se não bastasse, em nenhum momento sente falta de mulher...Oscilando entre a depressão e o ódio, Martín Fierro é um homem perigoso, bipolar, diríamos hoje.

Mas o poema Martín Fierro, sim, é o meu poema predileto. Pela força incomum de suas imagens, pelo correto uso da linguagem e da vivência campeira, pela habilidade de compor um cenário político e social que serve de moldura e de assunto ao mesmo tempo e, principalmente, pela dimensão atemporal que o sofrimento do homem encontra no cantar de um drama regional que se amplifica e se universaliza. É literatura de uma beleza sem igual, crua e pungente como a beleza do pampa.

São conhecidas traduções do poema entre nós. Por que, então, fazer mais uma tradução do Martín Fierro para o português? Afinal, já existem a erudita tradução de João Otávio Nogueira Leiria, que lhe custou 20 anos de trabalho, a tradução de Walmir Ayala, que privilegia o aspecto literal da obra e a tradução do meu amigo Leopoldo Jobim, com a primeira parte do poema.

Agora, eu quis fazer uma tradução a mais simples possível, deletando completamente expressões mais eruditas, “agauchando” mais o poema.

Foi um desafio que me lançou Vinícius Brum, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Traduzi a primeira parte do poema durante o mês de janeiro de 2009, praticamente em quatro semanas, com a ajuda da minha mulher, Ana Lucia Piagetti Fagundes. Aí, o Vinicius Brum recebeu a tradução e simplesmente me exigiu a segunda parte!

Mas aí eu já tinha ganho o espírito do poema e na segunda parte, foi inestimável a colaboração do meu primogênito Antonio Augusto Fagundes Filho, que também é poeta e poliglota, homem de uma cultura invejável, universalista. Sem eles, eu não teria ido adiante e a eles o meu mais sincero reconhecimento.

Não sou manso de computador, uma ferramenta que os mais jovens dominam perfeitamente. Ao meu filho dedico esse trabalho com a com a esperança de que ele continue o meu esforço em defesa da cultura gaúcha e o transmita ao meu neto Ariel e aos bisnetos que possam vir.

Eu chamo isto de amor.

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