Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Carlos Heitor Cony
A véspera do tudo e do nada
RIO DE JANEIRO - A pergunta é: o que se deve pensar na véspera de nossa morte? Ela foi feita a monsieur Verdoux, um dos personagens da fase madura e final de Charles Chaplin (1889-1977). No filme homônimo, de 1947, o personagem está preso e condenado à guilhotina.
Bancário durante 30 anos, ao perder o emprego decidiu casar ou namorar mulheres ricas, matava-as com frieza e sabedoria, e só por acaso foi descoberto pela polícia. Praticamente, ele já estava cansado do ofício.
Chaplin se inspirara num caso real, vivenciado por Landru, assassino em série que aterrorizou Paris entre 1914 e 1919. Orson Welles ameaçou processar Chaplin, alegando que tivera a mesma ideia antes.
Houve um acordo: para não brigar com o amigo, Chaplin deu-lhe crédito no filme e pagou US$ 5.000 ao autor de "Cidadão Kane", graciosamente, pois a ideia central da produção pertencia aos arquivos da polícia e da Justiça da França. Na realidade, não precisava pagar nada.
É difícil (e ocioso) imaginar como seria o monsieur Verdoux de Orson Welles. Certamente, seria mais solene e cinematográfico, tenderia a um personagem mais cínico e menos filosófico. Um exemplo: a pergunta que inicia esta crônica não seria feita ao criminoso que caminha para a guilhotina.
Aliás, quem faz a pergunta é uma prostituta que abandonou o ofício e casou-se com um milionário, um fabricante de armas para o Exército francês. Nos tempos de rua e fome, ela fora ajudada por Verdoux. A pergunta recebe a resposta "não" de Verdoux, o personagem, mas a de Charles Spencer Chaplin é uma das muitas tiradas que ele usou até excessivamente após se render ao cinema falado: "O que deve pensar uma criança na véspera de seu nascimento?".
O que seria mais assustador: o nada da eternidade ou o tudo da condição humana?
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