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quarta-feira, 30 de novembro de 2011
30 de novembro de 2011 | N° 16903
JOSÉ PEDRO GOULART
A esmola
Não sei direito para que serve uma opinião. Digo, qualquer opinião. E o pior é que com a internet andam a atirar opiniões em tudo quanto é canto. Sujeito quando diz que tem uma opinião, na verdade, tem é certeza.
Quanto vale uma certeza? Em casos graves a opinião dos outros ofende, e nem é preciso entrarmos na religião, no futebol e na política. Agora , o seguinte, todo mundo gosta de dar opinião, meter o bedelho, provar uma tese, consertar o mundo, resolver o enigma do universo, devolver amores perdidos com conselhos.
Ok, pelo menos a opinião serve para vender chope. O que seria dos bares se não houvesse troca de opiniões, debate sobre elas? Por exemplo, vou dar agora uma opinião típica de mesa de bar. Acho que o fim do mundo (ano que vem acaba) começou com a invenção do GPS, esse aparelhinho que impede que nos percamos em qualquer lugar do planeta. Imagine Cabral ou Colombo com GPS – qual a graça do descobrimento?
Quem nunca está perdido não encontra nada. Vale o mesmo para guias de viagem, cotação de estrelinha para restaurante, hotel: menos risco, menos surpresa, menos ilusão, menos alegria.
Noite dessas eu estava com três amigos, o David, o Ivan e o Rodrigo, num bar aqui da cidade discutindo este tipo de assunto – uns mais, outros menos, mas o fato é que naquele momento qualquer um de nós organizava as coisas muito melhor do que elas saíam, digo, no mundo.
Depois sentou-se o Eduardo, com ele mais um chope, e a conversa continuou líquida. A mesa era na rua, na calçada. Então apareceu um mendigo. Ele tinha uma bituca de cigarro na mão e sem se importar em atrapalhar a conversação pediu fogo.
Foi-lhe entregue o isqueiro, ele usou, pareceu que ia falar, talvez pudesse berrar alguma opinião também; algo sobre o fato de haver mesas com gente bebendo chope gelado enquanto há mendigos tendo que catar bituca de cigarro.
Ou se o Celso Roth deve ficar no Grêmio, se a Zona do Euro está a perigo, se a Copa fará bem ao país, se a TPM existe, se Deus existe, se Melancholia do xaropão do Lars Von Trier é presunçoso, o último Almodóvar violento, ou se mulheres sentadas em bares em grupos de três são mais acessíveis.
Mas não foi isso que ele fez. O que ele fez foi o seguinte: jogou uma nota de dois reais sobre a mesa, pagando por ter tido seu cigarro aceso e se mandou, murmurando algo incompreensível. A surpresa produziu bocas abertas, lambuzadas com alguma espuma de chope.
Sobre a mesa, aquela nota amassada, pousada em close up à vista de todos desafiava nosso GPS e talvez exigisse alguma tese. Nesse momentos, porém, a lógica contrariada provoca instantes sem qualquer opinião. E a falta de opinião se revela na forma de sorriso amarelo.
Quem nunca está perdido, não encontra nada.
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