Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
14 de novembro de 2011 | N° 16886
KLEDIR RAMIL
Carteiro
Paulo Cesar é um carteiro boa praça. Há anos entrega minha correspondência e toda vez que cruza comigo tem uma manifestação de alegria. Sempre me divirto com ele, reclamando que não me traz notícia boa, só conta pra pagar. A resposta é sempre a mesma: “hoje tem uma ótima notícia: uma herança pra receber”, sem entrar no detalhe de que pra alguém receber herança, outro precisa bater as botas. Ou seja, só chega notícia ruim mesmo.
Já foi o tempo em que o carteiro trazia cartas de amor. Perfumadas, em papel rosado, com marca de batom dos lábios da mulher amada. Algumas cruzavam o oceano, vinham de terras distantes e levavam meses para chegar. Vinham de navio, de trem, a cavalo. Não, não peguei essa época, vi no cinema. Muito menos recebi cartas escritas com pena de ganso. Não sou tão antigo assim. Sou apenas um romântico incorrigível.
Com o advento do e-mail, ninguém mais escreve cartas, as mensagens voam pela internet. E como os tempos estão cada vez mais velozes, a conversa ficou meio telegráfica, tipo SMS, BBM e outras mensagens minúsculas, digitadas com o dedão no celular. Aliás, telégrafo é outra coisa que nem sei mais se existe.
O bom é que hoje, através do computador, podemos ver e falar com a mulher amada, em tempo real, mesmo que ela esteja na Nova Zelândia. Dá pra matar a saudade, fazer declarações de amor. Só não dá pra abraçar e sentir o perfume. Por enquanto. O desafio da tecnologia para os próximos anos é conseguir transmitir o tato, o gosto e o cheiro das coisas. Entre elas, a mulher amada.
No tempo em que as pessoas moravam em residências sem grades, as casas tinham uma cerca baixa, com um portãozinho de madeira, flores no jardim e um cachorro. Cachorro era o terror dos carteiros. Todo quintal tinha um cão enfurecido, desses que correm atrás até de uma roda em movimento.
E a paixão de qualquer cachorro é morder perna de carteiro. É uma tara, um gene dominante do DNA canino. O bicho não pode ver um uniforme dos Correios que fica louco. O carteiro, por sua vez, não pode ouvir um latido. Entra em pânico e sai correndo. Cães e carteiros são incompatíveis.
Os carteiros estão em extinção, como o mico leão dourado e o urso panda. Em pouco tempo não terei mais meu amigo Paulo Cesar pra fazer comentários divertidos. O mundo está ficando sem graça.
Vou sentir falta dos carteiros. Dos cachorros, então, nem se fala.
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