sábado, 12 de novembro de 2011



12 de novembro de 2011 | N° 16884
PAULO SANT’ANA


Trama policial

É clássica a corrupção policial. Mas as características da corrupção que ocorre em Nova Friburgo e Araruama, duas cidades do Rio de Janeiro, espantam quase à incredulidade.

Os carcereiros da Polinter nessas duas cidades, chefiados por um delegado de polícia, soltavam presos em determinados dias, em troca de comissões que cobravam nos assaltos que esses presos praticavam durante a soltura.

Revolta e surpreende que um delegado de polícia fluminense tenha chefiado durante anos inúmeros agentes que formaram uma quadrilha para soltar presos em alguns dias, instruindo-os a roubar durante a folga e cobrando parte do produto dos roubos.

Uma coisa inacreditável. E milionária.

Ou seja, a indústria do crime capitaneada desde a prisão. Só que desta vez os chefes dessa indústria eram os policiais.

Os mesmos policiais de Nova Friburgo e Araruama tinham outro tipo de ganhos milionários: cobravam dos presos as visitas íntimas, isto é, preso que quisesse fazer sexo na prisão, ou seja, receber visita de mulher, era extorquido em R$ 50, R$ 100, R$ 150 para exercitar a sua lua de mel.

Não era difícil para aqueles policiais corruptos encontrar clientela para seus serviços, pois eles liberavam os presos para sair para a rua e roubar, cobrando comissões sobre os produtos dos delitos.

Depois de roubarem nas ruas, com dinheiro produzido nesses roubos, esses presos pagavam aos policiais pelo direito de fazer sexo na cadeia com mulheres visitantes.

Isso tudo era uma engrenagem multifacetada, uma usina de corrupção combinada com a outra.

Com a corrupção assim solta nas cadeias de Nova Friburgo e Araruama, os agentes corruptos chefiados pelo delegado passaram a criar em torno do complexo prisional que dirigiam formas variadas de lucros outros.

Cobravam caro dos presos para que eles tivessem mordomia dentro da prisão, como ar-condicionado, cela VIP, bebidas, celulares, videogames e até drogas.

Era cinematográfica a organização. Uma fábrica de corrupção montada a partir de dois presídios, ou seja, a quadrilha de policiais usava os prédios públicos e o sistema carcerário para locupletar-se, tendo os detentos como suas abelhas produtivas de corrupção.

Uma coisa nunca vista.

O que abisma é que durante tanto tempo essa organização criminosa tenha se tornado próspera, sem conhecimento das autoridades superiores.

Ao que parece, agora a quadrilha foi desbaratada, mas esse fato dá a entender que outras organizações policiais espúrias estejam agindo do mesmo modo em outros municípios do Estado do Rio de Janeiro.

A corregedoria policial agiu e pôs fim aos dois grupos corruptos de Nova Friburgo e Araruama.

Mas onde mais haverá exemplos idênticos?

É desanimador que o crime se organize exatamente por seus agentes policiais, os que deveriam combatê-lo.

É desanimador. E parecem não ter fim os atos de corrupção nas polícias carioca e fluminense.

paulo.santana@zerohora.com.br

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