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sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Carlos Heitor Cony
Os comedores de batata
RIO DE JANEIRO - Sempre foi complicada a história da humanidade. Momentos bons, em minoria, momentos péssimos, na maioria -acredito que nunca se chegará a um acordo sobre a sua importância ou a sua utilidade.
Neste início do século 21, mais uma vez ela se marca por uma redundância de problemas que vão da crise na Europa do euro, dos movimentos em países árabes -que estão sendo chamados de Primavera Árabe-, de guerras e conflitos localizados a um não saber o que fazer generalizado e medíocre.
Os otimistas sempre encontrarão motivos para citar os "punti luminosi" que foram criados em tantos séculos de história. A filosofia de Platão, a lógica de Aristóteles, a obra de Shakespeare, a "Nona Sinfonia", a genialidade de Leonardo da Vinci, a conquista espacial e os telefones celulares. Tudo bem.
Os pessimistas (que, por definição, estão bem informados) teriam muito mais a citar. A questão é obter uma imagem da colossal geleia que resulta do todo, metendo o bem e o mal num gigantesco liquidificador do tamanho da Terra, que não deixa de ser um misturador de coisas, girando em torno do Sol e de si mesma.
Se fosse escolher uma cena que expressasse tudo isso, eu pensaria numa obra de Van Gogh, de 1885, "Os comedores de batata". É um quadro meio sinistro, mas vital: todos estão comendo o que plantaram, fim de um dia e início de uma noite, um lampião combalido ilumina dramaticamente o rosto de camponeses exaustos.
Não é aquela lâmpada enorme e acesa que Picasso colocou em "Guernica", mostrando o quê? A devastação de um bombardeio -corpos e animais decepados, um momento funesto da humanidade.
O lampião de Van Gogh é neutro, não tem opinião, mostra o que deve ser mostrado, todos nós comendo batatas, inclusive as que não merecemos.
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