terça-feira, 29 de novembro de 2011



29 de novembro de 2011 | N° 16902
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Três virtudes

É um debate com alunos de uma escola média. Pergunto, para surpreendê-los, qual foi o maior presidente do Brasil. São eles que me surpreendem. Nada menos que três citam Juscelino Kubitschek. Ora, eles nem eram nascidos, e talvez nem os seus pais quando JK abriu para este país as portas da modernidade.

Faço algumas perguntas a meus jovens interlocutores. Eles conhecem muito sobre o sorridente mineiro de Diamantina. Sabem que implantou a indústria automobilística. Não ignoram que construiu imensas hidrelétricas, rasgou o nosso território de estradas, ergueu Brasília em meio ao enorme Cerrado.

Mais do que tudo, colocou o Brasil no mapa do mundo.

Raul Bopp conta em suas memórias que, embaixador na Áustria, fez tocar todos os sinos de Viena bem no momento da inauguração de Brasília, a mais moderna capital do universo.

Era um momento de grandes ousadias. A Seleção Nacional ganhava sua primeira Copa do Mundo na Suécia. A Seleção de Basquete vencia o Mundial do Chile. Maria Esther Bueno se impunha em Wimbledon. Eder Jofre vestia o cinturão da vitória no boxe. A Bossa Nova encantava o Carnegie Hall, em Nova York. Nascia o Cinema Novo.

Tudo isso coincidiu, certamente não por acaso, com o governo de Juscelino Kubitschek.

Romi-Isettas, Volkswagens, Dauphines, Gordinis, Simca-Chambords, Aero-Willys – e não por acaso JKs começavam a transitar por nossas ruas.

Havia todo um clima de otimismo no ar. O Brasil podia ser uma grande nação.

Tudo isso – mas não com esses inteiros detalhes – eu conversei com meus amigos estudantes.

Esqueci de dizer no entanto que ele era um brasileiro cordial, na acepção que deu ao termo Sérgio Buarque de Holanda. Esse homem foi JK.

Duas vezes oficiais amotinados se rebelaram contra o seu governo.

Ele no entanto não usou seu poder de esmagar as revoltas. Ao contrário, perdoou e anistiou os revoltosos.

Na política não foi diverso: era um conciliador.

Essa é uma virtude que esquecemos durante a ditadura militar.

Fiquei contente ao perceber que a memória de JK não está perdida mesmo nas escolas. Pois ele nos legou três heranças: a ousadia, a cordialidade e a conciliação.

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