sábado, 26 de novembro de 2011



27 de novembro de 2011 | N° 16899
VERISSIMO


Ninguém conseguia consolar o orador depois do seu discurso. Depois do seu vexame

Vexames

Acontece. As pessoas se enganam. Se atrapalham. Fazer o quê? O negócio é esquecer e tocar pra frente. Mas ninguém conseguia consolar o orador depois do seu discurso. Depois do seu vexame.

– Onde eu estava com a cabeça? Onde?

E ele batia com o punho na própria cabeça, como se quisesse puni-la.

Alguém disse:

– Acho que a maioria nem notou.

– Como não? Houve risadas. Vi gente perdendo a respiração com a surpresa. Gente indignada. E o homenageado? Ele notou. Tanto que nem me cumprimentou no fim do discurso.

– Não foi tão ruim assim...

– Foi. Foi horrível. Não vou poder mais olhar na cara de ninguém que estava lá. Muito menos do homenageado. O que foi que me deu, meu Deus?

– Foi um erro perfeitamente compreensível...

– Compreensível? Dizer “lupanar” em vez de “luminar”?

– As palavras são parecidas...

– Não são. E mesmo que fossem, não justificaria o meu erro. Como é que eu fui chamá-lo de “um lupanar da República” em vez de “um luminar”? Um lupanar da República!

– Calma, calma.

– Acho que vou emigrar.

A FRASE

É agora, pensou ele. Coragem. O pior que pode acontecer é ela me mandar passear. E aí eu morro. Não, não morro. Confiança, cara. Vai lá, antes que ela vá embora ou chegue outro antes de você, sente ao lado dela e a vida perca todo o sentido. Pense numa frase.

A primeira frase é importantíssima. Nada que a espante. Nada de conquistador barato, nada de Don Juan de shopping center. Apenas um homem abordando uma mulher numa praça de alimentação, tudo muito adulto e natural, tudo muito século 21, sem stress ou segundas intenções.

Alô, não pude deixar de notar que temos algumas coisas em comum. Somos os dois bípedes de sangue quente e... Não. Quem sabe o clássico “eu não conheço você de algum lugar?”. Tão banal e batido que talvez ainda funcione.

Ou: “Eu estava ali, olhando você, certo de que já a tinha visto em algum lugar, na televisão, no cinema, num concurso de beleza, e aí me deu o estalo: eu já sonhei com essa mulher! Você saiu do meu sonho. Vou cobrar direitos autorais”. Não. Bobagem. Passo por ela como quem não quer nada, querendo tudo, e comento: “Um shopping é a República Ideal do Platão com estacionamento, cê não acha não?”.

Aí ela sorri, e começa o romance, e nos lembraremos deste momento para sempre, ou ela não entende e me vira a cara. E eu morro. Não. Pego a minha Coca zero no balcão, levo até a mesa dela, pergunto se posso sentar ao seu lado, ela deixa, eu sento, sorrio e digo:

– Não é sempre que se pode sentar com realeza.

Boa frase, boa frase. E ele vai.

– Posso sentar aqui? Não tem outro lugar vago.

– Pode.

– Obrigado.

Ele senta e diz:

– Não é leza que se pode sentar com reasempre...

– O quê?

– Esquece, esquece.

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