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terça-feira, 22 de novembro de 2011
22 de novembro de 2011 | N° 16894
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Certifique-se de que o mesmo
Não tem uma vez que esteja esperando um elevador que não me aborreça com a frase de advertência ali estampada: “Aviso aos usuários: Antes de entrar no elevador, certifique-se de que o mesmo encontra-se parado neste andar”. Em São Paulo, onde nasceu essa mania, em 1997, como conta uma reportagem da CartaCapital desta semana, é um pouco diverso o texto:
“Aviso aos passageiros: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. A frase gaúcha consegue ser pior que a paulista, ao ter optado pelo verbo “certificar-se”, que exige aquele “de que”.
Haveria poucas chances de uma frase pública ser mais deselegante. E está por aí, multiplicada aos milhares, eternizando um uso do “mesmo” que, vamos combinar, é feio. Um sociolinguista diria que “feio” não tem nada que ver com uso da língua, e que se trataria apenas de saber se é funcional ou não a frase.
Como não sou sociolinguista, me dou o direito de achar feia a forma; por outro lado, vai querer me convencer de que os analfabetos e semialfabetizados só entenderiam a frase com o “mesmo”, e não com outra redação, mais limpa e direta?
Ensaio outra forma. Deixo o “Aviso aos usuários” ou aos “passageiros” mas depois tentaria assim: “Antes de entrar, verifique se o elevador encontra-se parado neste andar”. Não é melhorzinho? Poderia alguém suspeitar que “entrar”, sem um complemento de lugar, geraria dúvida – entrar onde? Bem, é do elevador que se trata, não da casa do prezado usuário ou passageiro, nem da casa do Badanha. Pois se a placa está afixada no marco da porta do elevador, onde mais seria possível entrar, por Tutatis?
Variemos então: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar”. “Ele”, pronomezinho honesto e bem conhecido, que faz o serviço a contento, sem o pernosticismo do “mesmo”. Ou: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele está parado”, simplesmente “parado”, porque, ora, se ele estiver parado em outro andar o usuário não terá como adentrar seu recinto, certo?
Mas talvez seja pedir demais aos legisladores. A vaidade do inventor da frase deve se inchar de orgulho autoral cada vez que o cara topa com uma porta de elevador. Assim também deve acontecer com o deputado gaúcho que, para marcar sua presença, passou de “verifique se” para “certifique-se de que”. Isso é que é texto!
fischerl@uol.com.br
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