sábado, 12 de novembro de 2011



13 de novembro de 2011 | N° 16885
MARTHA MEDEIROS


Adeus ao general

Agora posso engolir todos os “nunca viajarei em excursão” que já pronunciei na vida

Conforme comentei no texto da última quarta-feira, estive no Peru recentemente numa viagem em grupo, modalidade de turismo que adotei uma única vez, quando fui para o Marrocos, dois anos atrás.

Com essa dupla experiência, acho que agora posso engolir todos os nunca viajarei de excursão que já pronunciei na vida. Claro que há excursões e excursões: encontrei minha turma. E descobri algo ainda mais importante: nada como tirar férias do nosso generalato.

Costumo estar no controle de tudo, é meu jeito. Não tenho agente, assessora, assistente, motorista, nenhum staff que faça as coisas por mim. Sou minha própria secretária executiva, gasto 80% do dia gerenciando minha vida profissional, pessoal e a da minha família. Nos 20% que sobram, quando sobram, escrevo um pouquinho.

Logo, quando viajo, sou aquela que reserva hotéis pela internet, planeja os voos, agenda serviços de translado, pesquisa restaurantes, se informa sobre a programação cultural da cidade, lê matérias de revistas, compra um guia se for um destino desconhecido, enfim, não saio de casa desprevenida – o tempo geralmente é curto, e não convém dar espaço para roubadas.

Então surgiu essa oportunidade de ir ao Peru numa viagem de sonhos onde tudo estava previamente organizado. Não precisei resolver nada. Decidir nada. Escolher nada. Preocupação zero. Tudo o que me coube foi preparar uma mala enxuta e levar alguns trocados para o caso de querer comprar algum pano colorido, um pratinho de cerâmica ou uma garrafa de pisco. O resto estava tudo acertado. E tudo era tudo mesmo.

Na chegada aos aeroportos, uma van esperando. Hotéis incríveis com o check-in já feito. Restaurantes escolhidos a dedo, os mais charmosos, e que cardápio. Passeios com entrada livre, tudo foi liberado antecipadamente. Eu não olhava para o relógio. Não entrava em filas. Não reservava mesas. Não dava telefonemas. Não esperava para ser atendida.

Não conferia a conta. Não deixava gorjetas. Não interpretava mapas. Não procurava os endereços dos museus. Descobri finalmente o significado da palavra mordomia. O mundo funcionando à perfeição sem minha ingerência. Tudo o que tinha que fazer era me permitir ser conduzida e curtir a paisagem. Obedeci.

Por uma semana, adeus, general. Aqui você não manda nada.

Porém, um general que se preze não abandona o posto, apenas descansa com um olho fechado e outro aberto. Cá estou, de volta ao quartel, executando as atividades em que me reconheço: decidindo, escolhendo, experimentando, duvidando, dizendo sim, dizendo não, errando e acertando por conta própria. E, com secreto prazer, me concedendo a liberdade de me perder pelas ruas desse labirinto chamado vida real.

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