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terça-feira, 15 de novembro de 2011
15 de novembro de 2011 | N° 16887
PAULO SANT’ANA
Dois desafios
Tenho, neste portal do fim da minha vida, que antes da morte vencer dois desafios: deixar de fumar e ingressar numa laboriosa crença em Deus.
Tenho pressa em me entregar nos braços do Senhor e em largar o cigarro. Embora não pareça, tenho pressa, porque noto presságios concretos de fim da existência.
Não pensem que é fácil deixar de fumar. Nem é fácil entregar-me com devoção aos desígnios de Deus, sou martirizado pelas dúvidas.
Mas tenho de cumprir rapidamente com esses dois deveres.
Se por um lado o hábito tabagista me leva ao êxtase hedônico, por outra parte a minha entrega total a Deus certamente me provocará o êxtase da alma.
Nas elucubrações sobre esses meus dois desafios, entro a madrugada em delírios. E penso que talvez o que não me levou ainda a abrigar-me sob o manto do Senhor foi o cigarro. Se deixasse de fumar, depressa iria incorporar-me ao altar de Deus.
Ou, então, caso ingressasse na morada divina, logo deixaria de fumar.
São confusões que atormentam esses dois objetivos fundamentais para meu corpo e para meu espírito.
Garantem-me alguns teólogos que no céu é proibido fumar. Outros me afirmam que no céu tem fumódromo.
No céu há de haver um lugar em que se possa fumar. Nem que seja charuto.
O Tulio Milman, apresentador do Teledomingo junto com a Regina Lima, me disse ontem que teve a ideia e transferiu-a para a produção do programa, de fazer uma roda-viva entre mim e os médicos que tratam da minha saúde.
Ótima ideia. Seria a Última Ceia entre mim e os esforçados e talentosos profissionais de saúde que têm mantido minha carcaça incólume nos últimos anos às vicissitudes de vários males que me assolam.
Não há data útil em que eu passe um dia sequer sem consultar no mínimo três médicos. É uma romaria minha nos hospitais e nas clínicas.
Ontem, só por exemplo, tive meus dois olhos inteiramente vasculhados pelo oftalmologista Joaquim José Xavier, que completa dia 10 de dezembro 40 anos de diploma médico, logo em seguida fui às pressas até o otorrino Sady Selaimen da Costa, que me fez durante 40 minutos uma limpeza total nos escombros que restaram em meus dois ouvidos.
É que, dos cinco sentidos, tenho avaria em três. No paladar, não há médico que trate os apenas 50% que me restaram após a radioterapia. Mas, na visão e na audição, como narrei acima, sou assistido pelos médicos.
Quanto ao tato e ao olfato, os dois me permanecem inalterados desde que nasci, excelentes, tenho boa noção sobre o que toco e consigo discernir otimamente todos os odores e aromas.
Não sei o que seria dos meus defeitos de fabricação se não fosse atender os recalls todos dos meus médicos.
E tenho sido nesta via-crúcis, longe de um zero-quilômetro, até que um satisfatório usado.
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