segunda-feira, 21 de novembro de 2011



21 de novembro de 2011 | N° 16893
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Fernando Cordella

A sala de recitais é pequena, íntima. No palco, um cravo, silencioso e belo. A plateia está lotada. A luz apaga-se lentamente, em resistência. Fica apenas uma penumbra. Através dela, um vulto se movimenta. Já sabemos quem é.

O jovem Fernando Cordella aproxima-se do cravo, senta-se e começa as primeiras notas. O som metálico, mas doce, se expande pela sala. A luz, aos poucos, volta, e ali está Fernando Cordella, “O homem do Cravo”, de perfil, magro, com o cabelo revolto como é de hoje.

Seus dedos sabem como se toca o teclado de um cravo: sem o peso do braço, sem o peso do pulso. A plateia logo de dá conta de que está frente a um virtuose, que consegue ser, também, um executante sensível, capaz de entender na plenitude, o período musical e o autor. Nenhum é igual ao outro.

O cravo não é instrumento fácil. Requer especialista, conhecedor, que voluntariamente deve esquecer o piano em que se formou. São diferentes. Se o piano, surgido nos primórdios do Romantismo, permite o uso da dinâmica e do auxílio do pedal, já o cravo, à exceção de alguns poucos registros, confia na sabedoria do executante que saiba tirar das limitações toda a intenção do compositor.

O recital, realizado no StudioClio, tinha um propósito: o lançamento do CD Cravos, que será, no tanto que a memória possa ajudar, um feito inédito em nosso meio. Brasileiros cravistas os há, a começar pelo precursor Roberto de Regina, um idealista e apaixonado fabricante do primeiro cravo “brasileiro” e das primeiras gravações; mas aqui, com certeza, Cordella é pioneiro.

Apesar do futuro à frente, já escreve um currículo invejável, com participação em inúmeros concertos, seja como instrumentista, seja como diretor. É possível escutá-lo com várias orquestras, aqui e no país. Coordena a Confraria Música Antiga do StudioClio, e o lançamento é um resultado dessas atividades, realizadas desde 2007.

O CD, profissional, com encarte e diagramação refinada, produção do próprio StudioClio – leia-se o brilhante e inesgotável Francisco Marshall –, contou com uma equipe qualificada, a começar pelo seu mecenas, Sr. Carlos Melzer, passando por uma ficha técnica de alta expressão.

No CD, o ouvinte poderá deliciar-se comparando os timbres dos quatro cravos usados na gravação – um verdadeiro bônus. O repertório é o típico da literatura cravística, a começar por Frescobaldi e chegando a Mozart. Estabelecer qualquer destaque é sempre uma injustiça. Por isso: compre o CD, ouça-o. Satisfação garantida – e perene.

laab@portoweb.com.br

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