sábado, 12 de novembro de 2011



12 de novembro de 2011 | N° 16884
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


A casa de Bento Gonçalves (2)

Hoje se diria que Bento Gonçalves tinha carisma, a capacidade de se impor naturalmente. Ademais, era um homem esguio e forte, com 1m74cm de altura, destro espadachim (aos 13 anos, matou em duelo um negro bandido que era o terror de Triunfo e, aos 54 anos, venceu em duelo Onofre Pires, que era um gigante).

Bom nadador, como provou ao escapar do Forte do Mar, na Bahia, grande cavaleiro, como disse em suas memórias Giuseppe Garibaldi, era um homem fisicamente atraente, como depõe em seu favor a única pintura que dele ficou. Dizem que quando dançava com Dona Caetana nos aristocráticos salões de Pelotas faziam um par tão bonito e havia tanto amor irradiando deles que os outros pares se afastavam e paravam de dançar unicamente para vê-los, com admiração e respeito.

Quando terminou a Guerra dos Farrapos, Bento Gonçalves da Silva, aos 57 anos se dizia velho, doente e pobre. Velho ele não era. Doente, sim e muito, alquebrado pelas agruras dos acampamentos sem conforto, das marchas forçadas, dos combates em condições militares inferiores, das decisões graves que às vezes precisava tomar. Ele morreria dois anos depois da paz. Se estivesse vivo e com saúde, seria certamente Brigadeiro do Exército Imperial na Guerra contra Rosas e até na Guerra do Paraguai.

Pobre, ele também não era. Tinha perdido com a guerra todo o seu numeroso gado, grandes porções de terra e os escravos familiares que se alistaram para lutar no Exército Republicano e que, com isso, conquistaram a liberdade. Mas conservava a Estância do Cristal. Prontamente, os seus irmãos maçons lhe emprestaram dinheiro, e ele pode repovoar os campos que lhe restavam. A Estância do Cristal está lá, no município do mesmo nome. Nunca foi uma grande estância, mesmo para os padrões de hoje.

O que se sabe sobre o duelo de espada entre Bento e Onofre, o que houve e o que não houve no reencontro sangrento, é o que o próprio Bento narrou ao filho Joaquim e o que este publicou posteriormente com as declarações do pai. Porque Onofre Pires não falou nada a respeito.

Ferido no braço direito e recolhido à barraca de Manoel Lucas de Oliveira, perdera muito sangue e morreria em dois dias. Quem cuidaria do ferimento seria o “Dr. Gaiola”, marido da famosa “Papagaia”. A rigor, “Dr. Gaiola” não era médico, era farmacêutico, mas exercia o cargo de médico do exército de David Canabarro, que era amante – e todo o exército sabia disso – da esposa do seu médico.

O rancoroso Antonio Vicente da Fontoura, que odiava Bento Gonçalves, escreveu nas cartas que mandava para a sua esposa que Bento era “assassino”. Fontoura foi o grande (ir)responsável pelo duelo entre Bento Gonçalves e Onofre, com as intrigas que espalhava – chamando Bento até mesmo de ladrão.

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