quinta-feira, 17 de novembro de 2011



17 de novembro de 2011 | N° 16889
L. F. VERISSIMO


Ups

Caíram em cima do Fernando Henrique quando ele, recém eleito, disse para esquecerem tudo o que tinha escrito. Era uma boa piada, significando que o que para o sociólogo fora apenas teoria o presidente agora teria que enfrentar na prática, e um simpático exemplo de humor autodepreciativo.

Ele só não se deu conta de que não estava nos Estados Unidos, onde esse tipo de humor, mesmo em altos escalões, é comum. E foi perseguido durante todo o seu governo pela frase, entendida como uma confissão de cinismo.

A informalidade, mesmo no trato de coisas sérias, é uma constante nos Estados Unidos, onde se espera que o homem público faça humor, às vezes às suas próprias custas, para parecer um cara despretensioso e legal.

Agora mesmo, num debate com outros candidatos a candidato republicano na próxima eleição presidencial, o texano Rick Perry deu um vexame em cadeia nacional – declarou que iria acabar com três agências federais, nomeou duas mas esqueceu qual era a terceira – e completou a gafe com um “ups” embaraçado.

Virou uma anedota: o candidato que não se lembrava da própria plataforma. E o alvo de todos os impiedosos cômicos do país. No programa do David Letterman, o tema da lista dos 10 mais que Letterman costuma apresentar todas as noites era as 10 melhores desculpas do Rick Perry para o seu papelão. (Exemplos: “Foi culpa do ‘El Nino’” e “Eu tinha acabado de saber que o Justin Bieber é meu pai”). E quem leu as desculpas no ar? O próprio Rick Perry.

O “ups” já tinha lhe assegurado a simpatia de metade da população. Quem nunca teve um “branco” parecido? E a participação no programa do Letterman, rindo de si mesmo, lhe assegurou a absolvição. Não se sabe que efeito o episódio terá na sua candidatura, mas ficou provado que Rick Perry é, decididamente, um cara legal.

Cadeiras

O Renato Maurício Prado fez uma boa imagem para descrever o Campeonato Brasileiro deste ano: é como um jogo de cadeiras musicais. Quando sobrar só uma cadeira e a música parar, será campeão quem conseguir sentar, e não será necessariamente o melhor do campeonato.

Que teve o mérito de acabar com o medo de quem dizia que campeonato de pontos corridos fatalmente perderia o interesse quando um time superior disparasse na frente dos outros.

Nenhum time disparou, todos ficaram dando voltas nas cadeiras em relativa igualdade de condições, e, se não foi um campeonato brilhante, nunca deixou de ser interessante. No fim, acho eu, a decisão será entre um time que não tem Dedé e o time que tem Dedé.

Nenhum comentário: