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sábado, 12 de novembro de 2011
12 de novembro de 2011 | N° 16884
NILSON SOUZA
O último sorriso
Sei que foi uma coincidência, mas não pude evitar também eu um risinho nervoso: os três mortos da página estavam rindo, aparentemente às gargalhadas. Exatamente, naquela rápida passada de olhos que todos nós, leitores, damos pela página do obituário, só para conferir se algum conhecido não bateu as botas sem avisar, deparei com três rostos sorridentes. Claro que minha primeira reação foi de espanto, considerando a natureza do conteúdo:
– Ué, estão rindo de quê? – pensei.
Riam da minha curiosidade recém despertada, provavelmente. Tanto que fui ler a história de cada um – e todas justificavam aquele último sorriso congelado para a eternidade. O primeiro era um motorista de táxi aposentado que fez sua derradeira corrida aos 93 anos, o que talvez já fosse motivo suficiente para uma despedida alegre. Mas tinha mais na sua sintética biografia: apaixonado pelo acordeão, que aprendeu a tocar por conta própria, passou a maior parte da vida animando bailes de Carnaval e Kerb. Estava mais do que explicado o sorrisão.
O outro até que se mandou cedo deste vale de lágrimas, aos 59 anos, mas também parece ter se divertido bastante por aqui. Era Rei Momo nos Carnavais, amava música sertaneja, gostava de cantar e dançar. Só por aí já dá para entender o sorriso póstumo.
O terceiro sorriso bonito da página fúnebre pertencia a uma senhora que só parou de fazer tricô, palavras cruzadas e de cuidar do seu jardim aos 79 anos. Segundo o registro da sua passagem pelo planeta, era muito religiosa e não perdia jogo do seu time do coração. Educou três filhos e conviveu com quatro netos. Deve ter tido mesmo muitos motivos para rir.
Os mortos sorridentes alegraram o meu dia nas primeiras horas da manhã, que é quando debulho as páginas coloridas do jornal, nem sempre com a tranquilidade necessária para curtir histórias interessantes que emergem das entrelinhas. Raramente me detenho no obituário, mas naquele dia não pude resistir ao apelo dos dentes à mostra.
O sorriso, realmente, tem uma força insuspeitada. Já li em algum lugar o que repito a seguir, sem a exatidão do texto original: existe um sorriso capaz de te fazer forte, de serenar o teu coração, de te fazer superar obstáculos aparentemente intransponíveis e, principalmente, de atrair outros sorrisos.
Este sorriso é o teu.
E, como aprendi naquele dia de surpresas, funciona mesmo depois da vida.
nilson.souza@zerohora.com.br
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