segunda-feira, 14 de novembro de 2011



14 de novembro de 2011 | N° 16886
PAULO SANT’ANA


Banda sadia da polícia

Esta coluna tem ressaltado frequentemente a corrupção na polícia carioca.

Mas agora há um motivo para salientar o contrário: a forma profundamente elogiável com que se portaram dois tenentes da PM carioca na semana passada.

Depois de participarem da prisão de cinco traficantes, que incrivelmente estavam sendo escoltados, protegidos, encobertos por três policiais civis e dois ex-PMs, além de também prenderem os policiais corruptos no mesmo ato, horas mais tarde desfecharam a prisão do traficante mais procurado, Antônio Bonfim, o Nem.

E, ao prenderem o famoso traficante, receberam proposta de suborno por parte do advogado do detido, algo que girava em torno de R$ 1 milhão.

Rejeitaram o suborno e levaram à frente sua ação.

Esta banda sadia da polícia carioca é bem mais frequente que a banda podre. Ela funciona na maioria das vezes no ostracismo, discreta, sem as luzes dos noticiários. Mas ela é que sustenta a organização policial, o seu moral, protegendo de forma classicamente honesta a população.

Os dois tenentes foram farta e justamente elogiados por seus superiores.

É isso que anima a cidadania. Entre tantos exemplos de policiais corruptos, no entanto, sobressaem os atos de dever cívico e moral que pautam as ações honestas dos policiais corretos.

Esplêndido exemplo.

Preso o traficante Nem, ele confessou agora que metade de todo o lucro de sua ação criminosa ele era obrigado a pagar à banda podre da polícia.

Chega a ser estupefaciente que alguns policiais enriqueçam com o crime, extorquindo os traficantes.

É surrealista que quanto mais entorpecentes sejam negociados junto à população, mais cresce a organização criminosa e mais se locupletem os policiais corruptos.

A droga, portanto, funciona com três vetores de efeito imediato: entorpece os viciados, enriquece os traficantes e locupleta os policiais corruptos. Natural, então, que a droga esteja fadada cada vez mais ao sucesso de seu alastramento. Ela tem como aliada a multidão de usuários, entre a qual muita gente respeitável na sociedade, contando ainda em seu apoio com o tecido organizadíssimo dos traficantes e dos policiais corruptos.

É um exército quase invencível, tem como adversários apenas as autoridades e agentes honestos e cumpridores de seus deveres.

Até agora a guerra foi desigual, estão vencendo as forças do mal.

Por isso é que pessoas muito bem situadas no campo cultural e social têm se manifestado favoráveis à liberação das drogas.

Elas raciocinam que, hoje, com as drogas sendo consideradas ilícitas, seu consumo é fantástico.

Se fossem liberadas, haveria, é lógico, o consumo, mas desapareceriam tanto esse poder de corrupção que as drogas exercem quanto os milhares de assassinatos e outros crimes derivados do tráfico.

É respeitável o entendimento dos teóricos que defendem a liberação, pelo menos da maconha.

E fatalmente a civilização qualquer dia destes terá de enfrentar corajosamente esse dilema.

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