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segunda-feira, 21 de novembro de 2011
21 de novembro de 2011 | N° 16893
PAULO SANT’ANA
Rotundo engano
Há uma frase no twitter que circula vitoriosa durante já há algum tempo: “Chato é aquele que fica mais tempo conosco do que nós com ele”.
No entanto, permito-me discordar frontalmente deste pensamento.
Não acho que o chato fique mais tempo conosco do que nós com ele, enquanto ele nos chateia.
Pelo contrário, se um chato nos chateia durante cinco minutos, aquilo para nós parece ser uma meia hora, quando não nos ameaça de se tornar uma eternidade. Pelo lado do chato, parece a ele tão natural nos ficar chateando que ele nem nota o tempo passar, chateia durante meia hora e aquele espaço de tempo lhe parece cinco minutos.
O tempo não existe para o chato, conosco acontece o contrário, ele nos chateia durante um tempo que nos é precioso.
Tanto isso é verdade que flagrei certa vez nesta coluna uma das características marcantes dos chatos: eles nos encontram e nos perguntam: “Tu poderias me dar atenção por uma meia hora?”.
Portanto a afirmação do twitter está completamente errada: o chato não tem prazo, ele está sempre disponível. Nós é que não temos tempo para sua chateação e queremos nos livrar depressa do chato.
Então como é que o twitter dá esta mancada ao afirmar que “o chato fica mais tempo conosco do que nós com ele?”.
O chato chateia sem perceber que está chateando. Chato não tem cronômetro.
Uma das características do chato é justamente não ter noção do tempo.
O chato sai para a rua e aborda as pessoas em qualquer lugar na sua missão telúrica de chatear.
Chato não tem limite de tempo, ele possui o dia inteiro a sua disposição para chatear.
Tanto tem tempo largo para chatear o chato que vocês nunca viram um chato perguntar que horas são.
Chato não dá bola para relógio nem para calendário.
Uma prova que chato não tem noção de tempo nem de ritmo é quando um chato está conversando com a gente: ele interrompe quando bem entende. Ele interrompe até quando a gente, em legítima defesa, o interrompe.
O chato tem larga disponibilidade. Quando a gente, cansado de tanto ser chateado, põe fim enérgico na conversa com o chato, ele ameaça terrivelmente: “Está bem, amanhã eu passo aqui para nós terminarmos a nossa conversa”.
Chato não tem data, com apenas uma diferença: chato adora domingos e feriados, ele imagina que nesses dias nós temos mais tempo para sermos chateados.
Chato, podem reparar, odeia segunda-feira no horário útil. Porque ele supõe que os chateados têm menos tempo nesse período.
E outra coisa: chato adora chatear na praia ou na Serra. Lá ele se realiza pela folga das pessoas.
E se o chato é daqueles que nos pega no trabalho, ele ataca durante o expediente e fica torcendo para que o tempo de trabalho não se extinga.
Não há maior pavor do chato que está chateando durante todo o expediente do que quando toca a sineta de fim de expediente.
É como se ele ficasse sufocado pelo aviso de que só poderá voltar a chatear amanhã.
Mas ele volta amanhã. Chato sempre volta sempre.
paulo.santana@zerohora.com.br
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