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domingo, 20 de novembro de 2011
20 de novembro de 2011 | N° 16892
PAULO SANT’ANA
Feliz por instantes
Anteontem, eu estava muito feliz. Por instantes, pela primeira vez não senti inveja dos felizes.
Eu sempre sinto inveja dos felizes. Eles me parecem seres de outro mundo.
Por que será que a felicidade é fugidia? E, por conseguinte, a tristeza é tão permanente?
Sinto inveja dos felizes porque não me apetrechei para ser um deles, talvez eu seja talhado para ser triste.
Como não posso ser feliz, já me contento quando me apanho menos infeliz.
A felicidade deixou para mim de ser um dever para constituir-se numa utopia.
Vez por outra, topo com um feliz e noto que não está mentindo. Que ele está se desembaraçando muito bem com sua vida apetecida.
Eu não entendo como é que eles podem ser felizes. Parece que não pensam, que não meditam, que não têm medo do futuro e abrem-se para a ventura do presente, desdenhando do passado.
Ali naquela sala, por exemplo, existem várias pessoas felizes. Ao me verem, tenho medo que me evitem por receio do contágio da minha tristeza.
Sinto que não é enganosa a felicidade que portam nos olhos, nos sorrisos, nas mãos. Elas curtem com naturalidade a posse da sua alegria.
Sinto-me em seu meio como um extraterrestre, não me pertence o mundo que elas habitam.
Se elas insistirem em me perguntar quem sou, vou identificar-me como sendo grande proprietário da tristeza.
Mas anteontem eu fui muito feliz. Então, é possível ser feliz, por pelo menos um dia, um instante, menos que uma semana.
A felicidade há milhões de séculos insiste em ser fugaz, efêmera como a flor primaveril.
Lembro-me de uns versos eternos, não lembro de que autor: “Esta felicidade que suponho/ árvore adorada que sonhamos/ toda arriada de mimosos pomos/ existe, sim, mas nós não a encontramos/ porque está sempre apenas onde a pomos/ mas é que nunca a pomos onde estamos”.
Por que sempre me resvala entre as mãos a felicidade? Por que ela me foge pelos caminhos de todos os dias?
Por que a felicidade me evita, como se eu não soubesse aproveitá-la se ela a mim se entregasse?
Um dia, não sei, quem sabe, é bem possível que eu venha a fazer as pazes com a felicidade e eu a mantenha viva e cativa, para sempre, no meu ninho propício.
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