23 de novembro de 2011 | N° 16895
PAULO SANT’ANA
Nhoque macio
Uma vez na vida, segui um conselho que se dizia muito sábio: “Usufruir tudo o que se tem, eis a felicidade?”.
Eu segui o conselho e gastei tudo o que tinha.
Acabei quebrado. E, portanto, infeliz.
Estou contando os dias, as horas. E o que eu esperava está se aproximando.
Quero sair do sério para elogiar profundamente, com todas as forças do meu intelecto e da minha sensibilidade, os técnicos de trânsito da prefeitura de Porto Alegre pela solução que deram ao entroncamento da Avenida Nilópolis com a Rua Carazinho.
Era um dos nós górdios do trânsito. Eu e toda a população engarrafávamos ali diariamente. Ou, quando engarrafávamos ali, fugíamos por outros trajetos, o que acabava engarrafando-os também.
Desde que foi criada a mágica solução, não há mais ali engarrafamento.
E solucionaram sem auxílio de criação de viaduto. Só com o manejo de sinaleiras. Eu próprio, não sendo engenheiro de trânsito, preguei durante muitos anos que se construísse um viaduto ali. Se não me engano, o próprio prefeito José Fortunati chegou a dizer que não havia recursos municipais para construir um viaduto no local.
Pois estávamos enganados. E os técnicos que bolaram a prodigiosa solução estavam certos.
Parabéns. Assim é que se governa uma cidade.
E o camelódromo da Avenida Voluntários da Pátria, como é que vai?
Confesso que nunca fui lá. E assumo compromisso de até a semana que vem comparecer no local para ver como é que está funcionando.
Mas o que me dizem algumas informações é que deu certo o camelódromo e está navegando a mil entre seus lojistas e consumidores, depois de algumas primeiras hesitações.
Quem sabe o prefeito não me convida para juntos fazermos essa visita?
Faz hoje exatamente 120 dias que me alimento de massas todos os dias.
Como a radioterapia me tirou a saliva e é impossível a uma pessoa comer só sopas todos dias, apelei para o espaguete, que com molho farto desliza tranquilamente pela minha garganta.
E como espaguete todos os dias, carbonara, ao sugo, de todos os tipos de molho.
Perguntaria a algum nutricionista se há alguma desvantagem ou desaconselhamento em eu comer massas todos os dias.
Ainda bem que, antes da radioterapia, eu já adorava espaguetes, tantas vezes falei sobre esse tipo de comida em minha coluna.
Esses dias, fui tentar comer um bacalhau e me dei mal, o mesmo com um galeto, não passam na minha goela seca.
E quem souber de algum nhoque bem macio, daqueles que derretem na boca, que me indique. Na cidade, existem bons nhoques, mas não são macios.
Por sinal, o nhoque mais macio que comi em toda a minha vida era feito por minha ex-mulher.
Às vezes, me dá vontade de voltar só por causa do nhoque.
paulo.santana@zerohora.com.br
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