sábado, 19 de novembro de 2011



19 de novembro de 2011 | N° 16891
PAULO SANT’ANA


Vantagens e desvantagens

Existem muitas e grandes vantagens em ter câncer. Depois que tive, é que fui perceber.

A primeira vantagem é a de ficar isento do imposto de renda sobre a aposentadoria.

A segunda vantagem em ter câncer é poder retirar o fundo de garantia.

A terceira vantagem em ter câncer é que as pessoas encontram a gente e vão logo dizendo: “Como estás bem!”.

A quarta vantagem em ter câncer é que se perdem 10 a 15 quilos na radioterapia ou na quimioterapia e se fica muito elegante, podendo usar camisas, calças e casacos que há tempo estavam arquivados e assentam como luvas no corpo da gente.

A quinta vantagem em ter câncer é que, com o tratamento, passa-se a comer um terço do que se comia antes, hábito morigerado que se impõe em muito boa hora.

Eu estou assim fazendo esta contabilidade estranha, para a qual peço a compreensão dos meus leitores e leitoras, por uma só razão: é que quero dizer que tudo na vida tem dois ângulos, acontecem coisas quase trágicas para nós, que no entanto por alguma sorte nos beneficiam.

É assim a vida. Existe o ângulo obtuso e o ângulo reto, o dia e a noite, o carpinteiro que fabrica as mesas para as festas faz também os caixões do cemitério.

Pois não dizem os historiadores que o maior fator de progresso humano através dos tempos foram as guerras?

O Lula, por exemplo, é um cara notável e surpreendente: está fazendo quimioterapia e resolveu antecipar-se à queda da barba e dos cabelos, raspou-os e mandou chamar os fotógrafos para documentar publicamente a peladura.

Eu entendi o Lula. Ele quis mandar um recado ao câncer: que tinha mais poder que a doença, era capaz de raspar a barba e o cabelo antes que ela o tentasse.

Eu só não entendi no Lula por que ele deixou o bigode, será que ficou com receio de parecer muito feio sem nenhum pelo na face?

Mas apareceram então algumas vantagens do Lula em ter câncer: não vai precisar cortar o cabelo nem a barba daqui por diante e por um longo período.

Só pelo fato de ter de fazer quimioterapia – eu não fiz, só fiz radioterapia –, o caso do Lula se anuncia como um câncer mais severo.

Interessante é que a vida tece caminhos intrigantes para o destino. Notem que a presidente Dilma Rousseff teve câncer linfático antes de ser presidente e o Lula teve câncer depois de ser presidente.

Se ambos tivessem tido seus cânceres durante o exercício da presidência, o equilíbrio institucional estaria correndo risco.

Nunca antes na história deste país, um futuro e um ex-presidente consecutivos tiveram câncer.

Eu não estou dizendo há tempo que esta moléstia, o câncer, resolveu atacar as pessoas com muito maior insistência nos últimos tempos?

Impressionante.

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