Entrelacos

04 de maio de 2011 | N° 16690
PAULO SANT’ANA

Copa sem fundilhos

E agora? O Brasil não vai ter estádios, não vai ter hotéis, não vai ter transportes, não vai ter aeroportos, mas terá de realizar a Copa do Mundo de 2014.

Se a Fifa não passar por cima das suas exigências, pagaremos o maior mico da nossa história.

A companheira de ZH Milena Fischer perdeu o avião que a deixaria no Rio de Janeiro, onde embarcaria para Madri, anteontem.

Muita neblina no aeroporto Salgado Filho, desaparelhado para essas condições. Dezenas de voos foram suspensos, centenas de pessoas se viram prejudicadas. No caso da Milena, só conseguiriam voo para ela no dia 7 de maio, ela ficou sem avião e a ver navios.

Suspendeu a viagem.

Se nós não temos aeroportos capazes de levantar voo com neblina, como nos metemos de pato a ganso em realizar uma Copa do Mundo?

Uma mania de grandeza do ex-presidente Lula que agora vem estourar no lombo de Dilma Rousseff.

E, se formos acelerar os projetos para realizar a Copa do Mundo, então subirão aos céus os aumentos dos custos para entregar às pressas as obras prometidas.

Isso nada mais é do que não olharmos para nosso próprio rabo.

Qualquer governante que conhecesse a situação da saúde pública brasileira, com o SUS realizando esforços descomunais para atender menos da metade da demanda de doentes do país, não teria o topete de mandar realizar essa Copa do Mundo.

E, se as pessoas estão morrendo à míngua de consultas, de exames e de cirurgias, apodrecendo em suas casas na vã espera de atendimento, como podemos nos dar ao luxo de gastar fortunas colossais saídas dos cofres públicos para o luxo de sediarmos um torneio de futebol internacional que dura apenas 30 dias?

Como podemos nos dar a esse luxo? Que insânia. Que irresponsabilidade.

Além da Copa do Mundo, queremos Olimpíada.

Se um só doente fosse recusado em posto de saúde ou hospital e morresse por isso, não se tinha de realizar Copa do Mundo alguma.

Mas são milhões que sofrem, que estrebucham e que morrem por falta de atendimento de saúde no Brasil, basta darem uma olhada nas filas do SUS.

Por que, então, esse capricho de patrocinarmos uma Copa do Mundo? Não fosse o Brasil sediar a Copa do Mundo e poderíamos vê-la pela televisão, realizada em outro país.

Por que, então, essa megalomania?

Por que esse acinte dos governantes e de milhares de pessoas representativas que os apoiam nessa iniciativa sinistra, contra a nação e contra o povo?

Por quê?