sábado, 7 de maio de 2011



08 de maio de 2011 | N° 16694
PAULO SANT’ANA


Casamento é muito caro

Tenho um amigo que passou a vida inteira me dizendo que, se fosse homossexual, teria uma vida financeira feliz, pois paga duas pensões alimentícias para duas ex-mulheres que o crucificam economicamente.

Pois desde quinta-feira o meu amigo não pode mais dizer-me isso: o Supremo Tribunal Federal decidiu que daqui por diante as uniões estáveis entre gays serão suscetíveis de partilhas de bens, pensão alimentícia e herança.

Ou seja, se meu amigo fosse homossexual, isso não o livraria dos tributos da separação.

O que me intriga são as obrigações financeiras que vêm implícitas nas relações amorosas.

Antes, levava-se em conta nessas obrigações, quando da separação, os filhos que o casamento deixara quando se desfez.

Mas agora desapareceu a alegação de filhos. Homens e mulheres com cônjuge do mesmo sexo que vierem a separar-se terão de arcar com as obrigações de pensão alimentícia, partilha e herança. Os filhos desapareceram, assim, como óbices à separação.

Na verdade, eu sei por que são intrínsecas à separação essa obrigações financeiras, que, como se sabe, são perpétuas, só desaparecerão quando um dos cônjuges morrer. Pena perpétua.

É que na constituição do amor, o âmago da relação amorosa já vem marcado pela ameaça da separação.

O amor já carrega, portanto, desde o seu nascimento, na sua estrutura orgânica e emocional, o vírus da separação.

Ainda mais hoje em dia, são raros os casamentos que se só findam com a morte dos cônjuges. A fadiga dos metais é hoje a causa mais frequente do arrasador índice de separações.

E, como o dinheiro comanda todas as ações humanas, não surpreende que controle também as relações conjugais e a extinção delas.

Um pensamento antigo meu, já escrito aqui há muitos anos é o de que “só existe uma coisa pior que o casamento: a separação”.

O STF nada mais fez do que declarar peremptoriamente, a todos os cidadãos brasileiros, que examinem os deveres financeiros acarretados no casamento e na união estável e só perpetrem um acasalamento depois de terem muito bem em vista as obrigações decorrentes de uma separação.

Eu já sabia há muito tempo que tanto o amor quanto o sexo custam caro.

No seu início, o amor é pleno de delícias e de boas notícias. Vive-se num paraíso.

Mas basta findar o amor e se tornar inevitável a separação para que rios de sangue, suor e lágrimas banhem as relações entre os separados.

Quantos e quantos deixam de separar-se e mantêm os atribulados grilhões só para não mergulhar na falência econômico-financeira!

O casamento é, pois, uma coisa muito séria. É preciso refletir-se muito antes de mergulhar em suas águas.

Poucos saem impunes de qualquer união.

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