sábado, 14 de maio de 2011



15 de maio de 2011 | N° 16700
DAVID COIMBRA


Michelangelo e Chaplin no Gre-Nal

Michelangelo levou quatro anos para pintar o teto da Capela Sistina, e deve ter passado todo esse tempo de mau humor. Porque tinha de trabalhar empoleirado num andaime, forçando os olhos para cima e a coluna para baixo, e porque ele dizia não ser pintor, e sim escultor. Para completar a chateação, um padre do lugar aparecia todos os dias na capela para se queixar dos nus pintados pelo artista.

“Uma pouca vergonha!”, reclamava. Tanto incomodou, que Michelangelo resolveu se vingar: retratou-o numa das figuras que ardiam no fogo do inferno. Fulo, o padre foi se queixar para o bispo. No caso, o de Roma: o papa. E o papa, divertindo-se com a história, respondeu:

– Se ele tivesse colocado o senhor no purgatório, vá lá, eu teria como tirá-lo. Mas do inferno, o senhor sabe bem: de lá ninguém sai.

Bom humor no trato com os subalternos. Qualidade muito importante para um líder. Que Renato tem de sobra.

O escocês Andrew Carnegie era um dos homens mais ricos do mundo. Construiu sua fortuna nos Estados Unidos, em Nova York, onde, não por acaso, ergue-se o Carnegie Hall. Mesmo com todo o seu sucesso, podia-se dizer que Carnegie reconhecia o mérito alheio. Prova-o uma frase que, vivia a repetir, lhe serviria de epitáfio:

“Aqui jaz um homem que soube rodear-se de outros mais capazes do que ele próprio”.

Humildade. Aí está uma qualidade que faz vitoriosos em Gre-Nal.

Charles Chaplin, como todo comediante, adorava fazer imitações, sobretudo para impressionar a plateia feminina, Chaplin adorava uma plateia feminina. Certa noite, durante um jantar, ele anunciou que faria uma imitação e pôs-se a cantar uma ária lírica italiana. Entoou a ária com tal mestria que os convidados se admiraram:

– Nós não tínhamos ideia de que você sabia cantar!

Chaplin desdenhou:

– Eu não sei cantar. Eu só estava imitando o Caruso!

Não há problema algum em Leandro imitar Renato e Bolatti imitar Falcão. Não há problema em imitar os bons.

Durante uma visita a Roma, o tão poderoso quanto perigoso marechal nazista Hermann Göering passava pela estação de trem e esbarrou sem querer em um senhor já em idade provecta. Como Göering ia se afastando sem se manifestar, o homem protestou:

– Ei! Não vai pedir desculpas?

O nazista se inflou:

– Eu sou Hermann Göering!

O italiano sorriu de lado:

– Como desculpa, é pouco. Mas como explicação é mais do que suficiente.

Ousadia. Há que se ter ousadia para vencer um Gre-Nal de decisão.

O famoso campeão de boxe norte-americano Jack Johnson, que não era parente do cantor, achava muito elegante andar por aí de bengala. Era dono de uma peça valiosíssima, com cabo de ouro incrustado de brilhantes. Um dia, ao deixá-la na chapelaria de uma festa, decidiu colar nela um bilhete para os ladrões desavisados: “Esta bengala pertence a Jack Johnson, capaz de matar um homem com um soco”. No fim da festa, quando foi apanhá-la, não a encontrou mais. No lugar havia apenas outro bilhete: “Quem levou a bengala de Jack Johnson é capaz de correr 10 quilômetros em uma hora, e já faz meia hora que se foi embora”.

Astúcia. Não se vence um Gre-Nal decisivo sem astúcia.

No dia da Emancipação dos Escravos dos Estados Unidos, depois de longa cerimônia, faltava ao presidente Lincoln apenas assinar o documento que daria a liberdade aos cativos. O público assistia, ansioso. O assessor já vinha com a pena e os papeis, mas Lincoln mandou que esperasse:

– Estou recebendo cumprimentos de mão desde as nove horas da manhã, e por isso meu braço está quase paralisado. Deixe-me descansar um pouco para assinar este documento, porque, se minha mão tremer na hora, todos vão dizer mais tarde: “Ele vacilou”.

Consciência de que se está protagonizando um momento histórico. É disso que precisam os jogadores no Gre-Nal.

Realmente, a vida é um Gre-Nal, e não há jogo mais importante na vida do que o Gre-Nal.

Nenhum comentário: