sexta-feira, 20 de maio de 2011



20 de maio de 2011 | N° 16705
PAULO SANT’ANA


A radioterapia

Perdoem que eu conte como vai meu tratamento. Ele é tão importante para mim, que não posso desligá-lo de meu trabalho, esta coluna.

Todos os dias pela tarde, me envolvem numa máscara que vem do teto da cabeça até além de minha clavícula.

É uma máscara que classifiquei de delimitatória, intimidatória, inibitória, constringente.

Fico, assim, imobilizado durante 20 minutos, apenas respirando pelos furos da máscara.

Tenho de passar meu tempo, tenho de driblar o tempo.

Para isso, rezo. Rezo para pedir a Deus por minha sorte e rezo para passar o tempo, com uma oração que aprendi na infância e ainda guardo intacta na memória:

“Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, degredados filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, os vossos olhos misericordiosos a nós volvei e, depois desses desterros, mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, doce sempre, Virgem Maria!”.

Isso tudo se realiza no Centro de Oncologia e Radioterapia (COR) do Grupo Mãe de Deus, na Rua Orfanotrófio.

Lá tem uma religiosa, a irmã Maria, da ordem que administra o Mãe de Deus, que me lembrou de outra oração da minha infância, cuja parte do texto eu havia agora, 60 anos depois, esquecido. Recito então a oração parcialmente esquecida, enquanto me submeto à radioterapia: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém”.

O tempo vai passando como um milagre na sessão em que raios radioterápicos são lançados sobre as partes da minha cabeça afetadas pela doença.

E as funcionárias Patrícia, Christiani, mais o Daniel e o físico radioterápico William me enchem de gentilezas, atenções e encorajamento, coordenados pelo médico Cláudio Sá Brito.

É um lugar muito acolhedor o COR, lá tem flores, é um ambiente muito limpo, feito adequadamente para que não se tenha a ideia de que se está lá para tratar de uma doença, mas sim para curtir o devaneio convicto da cura.

Eu e todos os pacientes, a maioria amassadora com mais de 50 anos, ficamos abismados com a cordialidade dos atendentes do COR, eles sempre fazem palavras gentis serem seguidas ou antecedidas pelos procedimentos.

Sinto-me tão bem lá, que estou propondo à direção do estabelecimento que se ponha na parede de uma sala o seguinte cartaz, assinado por mim e em homenagem aos funcionários do COR: “Dá gosto adoecer com vocês! Paulo Sant’Ana”.

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