segunda-feira, 16 de maio de 2011


Editorial Folha

Nem profetas nem vilões

Se comparados aos magos do mercado financeiro, os bilionários do setor da informática sem dúvida se cercam, na opinião pública, de uma aura romântica, quase adolescente. Ainda guardam, na aparência e no comportamento, algo daquele ar de estudante aventuroso e genial, capaz de modificar o mundo com experimentos improvisados numa garagem.

A isso se soma, naturalmente, o quanto a tecnologia da informação traz de reais perspectivas para a humanidade. Dos relacionamentos pessoais à pesquisa de ponta, não há como ignorar o progresso vertiginoso dos últimos 20 anos, com a decisiva contribuição de universitários brilhantes.

Ocorre que Microsoft, Google, Yahoo!, Facebook e congêneres tornaram-se, quase da noite para o dia, corporações gigantescas. E já se acumulam os casos em que denúncias de monopólio, concorrência desleal e comprometimento político vêm turvar a imagem idealizada que delas se fazia.

O mais recente episódio envolve o site de relacionamentos Facebook e o Google, potência corporativa nascida de um site de buscas na internet. Como terceira personagem no imbróglio, aparece uma das maiores empresas de relações públicas do planeta, a Burson-Marsteller. Contratada em segredo pelo Facebook, dedicou-se a disseminar rumores de que a privacidade dos usuários do Google estava ameaçada.

Repórteres, comentaristas e blogueiros foram contatados pela Burson-Marsteller, que acenava com informações exclusivas a respeito do assunto. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro, em mais de um sentido. Vieram da própria blogosfera os primeiros alertas quanto à artimanha, que terminou desvendada pelo jornalista Dan Lyons, do site Dailybeast.

Vê-se que a luta concorrencial entre grandes grupos da informática é, também, uma guerra de informação. A investigação jornalística marcou um ponto no episódio -enquanto os fatos, como sempre, desmentem as idealizações.

Nem profetas nem vilões, e por vezes tendo um pouco de ambos, os poderosos grupos de tecnologia se comportam como grandes empresas, voltadas igualmente para o lucro e para a inovação, em benefício dos seus acionistas e também do consumidor.

Como em qualquer outro ramo de negócios, cabe aqui também zelar para que uma regulamentação equilibrada impeça seus abusos, sem tolher os incentivos -insubstituíveis- que os mecanismos do mercado representam para a pesquisa e para a inovação.

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